Como podemos oferecer a Deus um culto que o agrade realmente, e demonstre nossa sincera gratidão por sua obra de salvação na nossa vida? Durante toda a história da Igreja essa questão foi tratada, hora com mais hora com menos reverência. Um período em que a polêmica da forma do culto se tornou crucial foi na controvérsia do puritanismo com a igreja anglicana inglesa, no século XVII.
O Princípio Regulador do culto foi desenvolvido pelos puritanos ingleses e escoceses em oposição ao chamado Princípio Normativo defendido pelos anglicanos ingleses. O Princípio Normativo defendia que o que não for diretamente proibido nas Escrituras é permitido no culto. O Princípio Regulador estabelecia que o que não for diretamente ensinado nas Escrituras ou necessariamente inferido de seu ensino, é proibido no culto, ou melhor, só é permitido no culto aquilo que tiver real fundamentação bíblica, que é expressamente ordenado nas Escrituras ou dela depreendido (Dt 4.1,2; 12.32 (texto áureo); Mc7.6-13; Cl 2,16-23).
O objetivo do Princípio Regulador é livrar o culto cristão de todo tipo de superstições populares. Os puritanos dirigiam suas principais objeções à permanência, na liturgia eclesiástica, do ritual e das vestes sacerdotais católicas. Eles não encontravam base bíblica para a guarda de dias santos, absolvição clerical, o sinal da cruz, a presença de padrinhos no batismo, o uso de sobrepeliz e o ajoelhar-se na hora de receber a ceia.
Hoje em dia parece que o Princípio Normativo desenvolveu-se numa espécie de Princípio Intuitivo, em que as igrejas em função de seu equivocado conceito de liberdade, praticam aquilo que intuitivamente vier à mente do dirigente do culto na hora do serviço. Gesticulações mágicas, venda de bugigangas plastificadas, rituais de purificação, sacralização de móveis e utensílios etc.
Moisés escreveu o livro de Levítico para responder exatamente a essa indagação. O povo foi livre de um cativeiro que durara mais de 450 anos no Egito. Eles viram a forma maravilhosa e miraculosa como Deus realizara a sua salvação no êxodo. Mas até então, todas as formas de culto que conheciam tinham sido aprendidas no Egito e estavam contaminadas com os ritos idólatras deles.
Os ensinamentos de Levítico regulam a forma do culto de Israel no Antigo Testamento de forma a que o povo adore a Deus como ele mesmo deseja ser adorado. O tema central de Levítico é que só podemos manter comunhão com Deus mediante a santificação. A base da comunhão estava estabelecida nos sacrifícios instituídos pelo próprio Deus (todos apontando para o Cristo que viria), não inventados criativamente por Moisés.
Nas ofertas sacrificiais, o povo encontrava a absolvição dos pecados (cap. 1-7). No sacerdócio o povo tinha a mediação da adoração (cap. 8-10). O povo deveria viver em constante purificação diante de Deus (cap. 11-16). O altar simbolizava a reconciliação com Deus (cap. 17). Os capítulos 18-27 mostram que o meio de se andar com Deus e manter comunhão com ele é mediante uma vida de obediência e santidade.
A grande confusão na qual vivemos hoje em dia é que queremos fazer Deus aparecer, manifestar-se; a fim de abalizar nossas práticas cúlticas e de trabalho como verdadeiras. Assim nossos cultos vão se transformando em shows de Deus, shows da fé e shows de nós mesmos para nós mesmos. Por outro lado, o Senhor avisa que vai aparecer. Por isso o povo deve se preparar, cumprindo suas ordenanças para que quando a sua manifestação acontecer, ele aprove a obediência, e não o espetáculo (Lv 9.4). A manutenção do culto deve ser simples e funcional, a fim de que este seja centralizado em Deus e não nas ofertas e nem nos adoradores. Saul foi rejeitado por desobedecer a esse preceito (I Sm 15). Os filhos de Arão pela mesma razão ofereceram um culto personalizado a Deus, sendo interpretado como um fogo estranho em sua presença. Eles foram mortos por Deus na presença de todo o povo por sua irreverência! (Lv 10).
Purificação, consagração e dedicação obediente são os preceitos que devem nortear a organização e a realização de qualquer culto que for oferecido a Deus. Não existe um caminho de atalho. Obedecer aos mandamentos de Deus é o maior privilégio de nossas vidas. Poder entrar em sua presença; poder permanecer em sua presença, comungar com ele e agradecer tudo que fez, faz e fará por nós em Cristo. Nada mais é preciso. Isso é tudo que ele deseja.
Com amor, Rev. Hélio de O. Silva
Boletim da PIPG Ano XX, nº 03 – 18/01/2009.