Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia-GO
Classe de Doutrina II – Quem É O Homem Para Que Dele Te Lembres?
Professores: Pr. Hélio O. Silva e Presb. Baltazar M. Morais Jr.
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Aula 01 = A Origem do Homem 13/02/2011.
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A. A doutrina do Homem na Dogmática.
A transição da teologia (teontologia) para a antropologia, isto é, do estudo de Deus para o estudo do homem, é natural. O homem não é somente a coroa da criação, mas também é objeto de um especial cuidado de Deus. E a revelação de Deus na Escritura é uma revelação dada não somente ao homem, mas na qual o homem é de interesse vital. Não é uma revelação de Deus no abstrato, mas uma revelação de Deus em relação às Suas criaturas, e particularmente em relação ao homem. É um registro dos procedimentos de Deus para com a raça humana, e especialmente uma revelação da redenção que Deus preparou para o homem e para a qual Deus procura preparar o homem. Isto explica por que o homem ocupa um lugar de central de importância na escritura, e por que o conhecimento do homem em relação a Deus é essencial para entendê-la adequadamente.
A doutrina do homem deve seguir-se imediatamente à de Deus, dado que o conhecimento dela é pressuposto em todas as partes subseqüentes da dogmática.
Não confundamos a antropologia bíblica com a antropologia geral ou ciência da humanidade, que inclui todas as ciências que têm os homens como o objeto de estudo. Estas ciências ocupam-se da origem e história da humanidade, da estrutura fisiológica e das características psíquicas do homem em geral e das várias raças da humanidade em particular, com o seu desenvolvimento etnológico, lingüístico, cultural e religioso, e assim por diante. A antropologia teológica ocupa-se unicamente do que a Bíblia diz a respeito do homem e da relação em que ele está e deve estar com Deus. Ela só reconhece a Escritura como a sua fonte, e examina os ensinamentos da experiência humana à luz da palavra de Deus.
B. Relato Bíblico da Origem do Homem.
A Escritura nos oferece um duplo relato da criação do homem, um em Gn 1.26, 27, e outro em Gn 2.7, 21-23. As palavras introdutórias da narrativa que começa em Gn 2.4, “Estas são as gerações dos céus e da terra, quando foram criados”, vistas à luz do repetido uso das palavras, “estas são as gerações” (Toledoth) no Livro de Gênesis, indicam o fato de que temos aí algo completamente diverso. A expressão indica invariavelmente, não a origem ou o princípio das pessoas mencionadas, mas a sua história familial. A primeira narrativa contém o relato da criação de todas as coisas na ordem em que ocorreu, enquanto que a segunda agrupa as coisas em sua relação com o homem, sem nada implicar com respeito à ordem cronológica do aparecimento do homem na obra criadora de Deus, e indica claramente que tudo que o precedeu serviu para preparar uma adequada habitação para o homem como o rei da criação. Ela nos mostra como o homem foi colocado na criação, rodeado pelo mundo vegetal e animal, e como ele iniciou a sua história.
Há certas particularidades que fazem a criação do homem sobressair-se em distinção à dos outros seres vivos:
1. A CRIAÇÃO DO HOMEM FOI PRECEDIDA PELO CONSELHO DIVINO.
Antes de registrar a criação do homem, Moisés faz menção ao conselho de Deus, dando-nos a conhecer o decreto divino ao escrever: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”, Gn 1.26. Geralmente a igreja tem interpretado o plural com base na existência trinitária de Deus. Entretanto, alguns eruditos o consideram como plural de majestade; outros, como plural de comunicação, no qual Deus inclui os anjos juntamente com Ele; e ainda outros, como plural de auto-exortação. Destas três sugestões, a primeira é muito improvável, visto que o plural de majestade originou-se em data muito posterior; a segunda é impossível, porque implicaria que os anjos foram co-criadores com Deus, e que o homem foi criado à imagem dos anjos também, o que é uma idéia antibíblica; e a terceira é uma pressuposição inteiramente gratuita, à qual não se pode atribuir nenhuma razão. A razão da forma plural é apresentar-nos o conselho da Trindade em ação na criação do homem.
2. A CRIAÇÃO DO HOMEM FOI UM ATO IMEDIATO DE DEUS.
Algumas das expressões utilizadas na narrativa anterior à da criação do homem, indicam criação mediata (Deus utiliza algum meio). Notem-se as seguintes expressões: “Produza a terra relva, ervas que dêem semente, e árvores frutíferas que dêem fruto segundo a sua espécie” (Gn 1.11), “Povoem-se as águas de enxames de seres viventes” (Gn 1.20), “Produza a terra seres viventes, conforme a sua espécie” (Gn 1.24), e comparem-se com a simples declaração: “Criou Deus, pois o homem” (Gn 1.26). Seja qual for a indicação de mediação na obra da criação, contida nas primeiras expressões, falta por completo na última. Evidentemente, a obra de Deus na criação do homem não foi mediata, em nenhum sentido da palavra. Embora seja dito que Deus tenha feito uso de material preexistente na formação do corpo humano (Gn 2.7), isso não acontece quanto à criação de sua alma.
3. EM DISTINÇÃO DAS DEMAIS CRIATURAS O HOMEM FOI CRIADO CONFORME UM TIPO DIVINO.
No que diz respeito aos peixes, às aves e aos animais, lemos que Deus os criou segundo a sua espécie, numa forma típica da deles próprios. O homem, porém, não foi criado assim, e muito menos segundo o tipo de uma criatura inferior. Quanto a ele, disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. Veremos o que isto implica quando discutirmos a condição original do homem, e aqui apenas chama-se a atenção para isso com o fim de expor o fato de que, na narrativa da criação, a criação do homem sobressai como uma coisa distintamente característica.
4. A NATUREZA HUMANA FOI CRIADA COMPONDO-SE CLARAMENTE DE DOIS ELEMENTOS DISTINTOS.
Em Gn 2.7 faz-se clara distinção entre a origem do corpo e a da alma. O corpo foi formado do pó da terra; na sua produção Deus fez uso de material preexistente. Na criação da alma, porém, não houve modelagem de materiais preexistentes, mas a produção de uma nova substância. A alma do homem foi uma nova produção de Deus, no sentido estrito da palavra, Jeová “lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”. Com estas simples palavras afirma-se a dupla natureza do homem, e o que elas nos ensinam é corroborado por outras passagens da Escritura, como Ec 12.7; Mt 10.28; Lc 8.55; 2 Co 5.1-8; Fp 1.22-24; Hb 12.9. Os dois elementos são o corpo e o sopro ou espírito de vida nele soprado por Deus, e com a combinação dos dois o homem se tornou “alma vivente”, o que neste contexto significa simplesmente “ser vivo”.
5. O HOMEM É IMEDIATAMENTE COLOCADO NUMA POSIÇÃO EXALTADA.
O homem é descrito como alguém que está no ápice de todas as ordens criadas. Foi coroado como rei da criação inferior (animais; vegetais; minerais) e recebeu domínio sobre todas as criaturas inferiores. Como tal, foi seu dever e privilégio tornar toda natureza e todos os seres criados, que foram colocados sob seu governo, subservientes à sua vontade a o seu propósito, para que ele e todos os seus gloriosos domínios magnificassem o onipotente Criador e Senhor do universo, Gn 1.28; Sl 8.4-9.
Bibliografia: Teologia Sistemática, Louis Bekhof, ECC, p. 172 a 174.