Introdução:
Muitos detestam polêmica, outros, dão a vida procurando uma até encontrar. A Bíblia ensina que polêmica é algo que devemos evitar, mas que não devemos fugir delas quando o evangelho estiver em jogo.
Contexto:
Em Gálatas, Paulo mergulha de cabeça na controvérsia com os judaizantes para defender a pureza do evangelho da graça. Negar a justificação dos pecadores por meio unicamente da graça de Deus é algo que não podemos aceitar em alguma, porque denigre o nosso salvador porque tenta desfazer o escândalo da cruz.
O ponto em discussão é: Negar a justificação pela fé somente é escolher o caminho da falsa religião desligando-se de Cristo.
Proposição:
Paulo mostra a diferença entre a falsa e a verdadeira religião. Primeiro focalizando a vida dos crentes e depois o ensino dos mestres:
I. CRENTES VERDADEIROS E FALSOS v. 1-7:
O verso 1 é formado de duas sentenças que possuem uma afirmação seguida de uma ordem. A afirmação é que Cristo nos libertou para ficarmos livres. A ordem é que permaneçamos nessa liberdade firmemente.
a) Cristo nos chamou para a liberdade.
Nossa libertação e conseqüente liberdade em Cristo são fatos. O foco de Paulo não cai sobre a libertação do pecado, mas na libertação da lei como instrumento de salvação (justificação). O foco de Paulo aqui não é a libertação da vontade da servidão do pecado, mas a libertação da consciência da culpa do pecado. Ele está falando da liberdade de consciência diante de nossa luta por tentar obedecer a Lei e nunca conseguir. Ele deixa claro que o que nos torna aceitáveis na presença de Deus não é o nosso esforço por obedecer (pois fracassamos), mas a obediência suficiente de Cristo oferecida por nós (a favor de nós) na cruz.
b) Devemos permanecer firmes na liberdade.
Uma vez que Cristo comprou a nossa liberdade do jugo da lei, devemos usufruí-la erguendo-nos e andando com Deus numa vida cristã reta e agradável a ele.
Cristo nos resgatou da maldição da Lei morrendo em nosso lugar (Gl 3.13) removendo o jugo de nossos ombros e proporcionando descanso para nossas almas.
A seguir Paulo aplica essa questão ao caso da circuncisão levantando e respondendo duas perguntas claras nos versos 2 a 4:
c)O que acontece se voltarmos à velha vida?
Seremos obrigados a guardar toda a Lei.
Quem acredita que precisa da Lei para salvar-se deverá guardar todos os seus preceitos e não pecar contra nenhum, se não a Lei servirá apenas para condená-lo. Quem erra em apenas um ponto da Lei é culpado de todos (Tg 2.10).
Cristo de nada nos aproveitará.
Se a circuncisão é mesmo necessária à salvação (At 15.1,5) como prova de nossa obediência a Deus, então a morte de Cristo não tem significado ou valor, porque não substituiu coisa alguma.
Seremos desligados de Cristo.
Acrescentar a circuncisão à salvação é perder Cristo, porque significa dizer que precisamos inteiramente de Cristo para a nossa salvação e depois voltar atrás e dizer que podemos dar uma ajudinha para Deus.
Da graça decairemos.
Procurar a justificação na guarda da Lei é cair da graça.
Cristo não ensina duas religiões. Ou somos salvos de uma forma ou de tentamos alcançá-la de outra, não podemos tentar misturar as duas. Essa sinergia nos levará a desvalorizar a obra de Cristo e nos concentrarmos em nossos esforços novamente. A história da igreja inteira é nossa fiel testemunha desse fato.
“Se acrescentarmos alguma coisa a Cristo, perdemos a ele. A salvação está em Cristo somente, pela graça somente, através da fé somente” (John Stott, A Mensagem de Gálatas, p.122).
d) O que acontece se perseverarmos?
Nos versos 5 e 6 o pronome de “vós” para “nós”. O tom de advertência muda para muda para o tom da segurança da fé.
Aguardamos a esperança da justiça que provém da fé.
O que de fato aguardamos em esperança? A vida eterna com Cristo! Observe que Paulo não diz que nós trabalhamos ou lutamos para alcançar essa esperança, mas nós simplesmente a aguardamos pela fé; guiados pelo Espírito Santo. A glorificação no céu é um dom tão gratuito quanto a justificação pela fé.
Em Cristo o que tem valor é a fé que atua pelo amor.
Para sermos salvos a única coisa de que precisamos é estar em Cristo; e nós estamos em Cristo pela fé, não por fazer qualquer coisa.
O que é essa “fé que atua pelo amor”? Paulo não esquece que a vida cristã não é uma vida de inatividade. Não somos salvos pelas boas obras, mas somos salvos para as boas obras.
Nós esperamos a vida eterna “pelo Espírito”. No próximo capítulo Paulo vai dizer o que é viver e andar no Espírito. Certamente não é uma vida infrutífera e sem trabalhos ou obrigações. A vida cristã não é vida de escravidão e nem de libertinagem, mas é vida frutífera conduzida pelo Espírito (5.16-25). A fé que salva é a fé que resulta em amor, que atua pelo amor.
Paulo afirma que nessa esperança de vida os gálatas corriam bem, mas foram impedidos de continuar. Observe que a conduta segue a crença. O que cremos e como nos comportamos são duas realidades integradas. A má crença leva a uma má conduta.
II. FALSOS MESTRES E VERDADEIROS v. 8-12:
Paulo muda o contraste agora. Antes era entre “nós e vós”; agora é entre “ele e eu”. Ele faz um contraste entre o falso mestre e ele mesmo. Paulo faz três afirmações sobre o falso ensino:
a) Sua mensagem não se origina em Deus (v.8).
Sua origem não é Deus, aquele que nos chama. A mensagem dos falsos mestres era incoerente com a vocação divina. Deus os havia chamado na graça (1.6), não em obras meritórias.
b) O efeito de sua mensagem impede o crescimento e a maturidade em Cristo.
O efeito foi impedir o avanço espiritual dos gálatas (v.7). Também os perturbou (v.10) e incitou à rebeldia. Paulo ainda acrescenta que o falso ensino se espalha como o fermento que leveda toda a massa. O falso ensino é contaminante, espalhando-se e tomando tudo pela frente! Por isso precisa ser resistido desde o começo.
c) O fim a que sua mensagem leva é a condenação eterna (v.10).
O fim do ensino falso é a perdição. O ensino errado nunca triunfa no final, porque nada constrói apenas destrói. O que aparentemente é crescimento, na verdade é contaminação que adoece e depois mata. Aquele que espalha o ensino falso, diz Paulo, “sofrerá a condenação” (v.10). e Paulo chega a desejar que se mutilassem, ou seja, que se “castrassem” em função de sua loucura em defesa da circuncisão como caminho de salvação.
Paulo aparenta descontrolado e grosseiro, mas o fato é que ele está tomado de zelo e amor pela igreja a qual plantou com muito sofrimento.
Pregar a circuncisão é desfazer o escândalo da cruz, o que é inaceitável para os verdadeiros cristãos. A cruz de Cristo é a nossa glória (6.14). As pessoas detestam a pregação da cruz porque ela não lisonjeia, mas humilha. A pregação da cruz atrai perseguição, mas a pregação das obras bajula e agrada.
Essa marca diferenciadora não pode passar despercebida por ninguém que diz ser um verdadeiro cristão! No decorrer da história os pregadores cristãos que não distorceram ou diluíram a mensagem do evangelho da graça sofreram nas mãos daqueles que o fizeram e continuam fazendo. Estes sempre tropeçam na cruz, que é um escândalo, uma pedra de tropeço em seu caminho na busca de sucesso e popularidade!
Conclusão:
1. O cristianismo não é uma religião de realizações humanas.
A glória do cristianismo é o escândalo da cruz, pelo qual fomos salvos pelo amor imenso e intenso do Pai por meio do sacrifício do meigo salvador. Esse é o caminho estreito. Não há pompa; não há realizações; não há conquistas. Tudo o que precisamos é receber o salvador e entregando-nos a ele obedecê-lo pelo resto de nossas vidas e depois viver a eternidade com ele.
2. Existem atitudes que são intoleráveis.
Não podemos tolerar uma diluição na mensagem do evangelho para satisfazer o nosso século. Não podemos aceitar modificações na mensagem para agradar convenções sociais humanas. Não podemos trocar o evangelho puro por outro sofisticado, mas enganoso.
3. Existem escolhas que não podem ser adiadas.
Não se deixar e esperar o tempo passar, é preciso começar a correr desde já. Cristo nos chama para estarmos com ele, pois ele está conosco. Mas ele não aceita acompanhamentos e acréscimos. Ou andamos com ele somente ou não estamos no caminho ainda. O que vai ser?