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Aula 11 = A Origem do Pecado

Foto: Pecado: Elisberto Jorge Torrecilha (2009).

Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia-GO
Classe de Doutrina II – Quem é o Homem Par Que Dele Te Lembres?
Professores: Pr. Hélio O. Silva e Presb. Baltazar M. Morais Jr.
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Aula 11 – A Origem do Pecado 08/05/2011.
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A partir dessa lição e até o final do semestre, trataremos DO HOMEM NO ESTADO DE PECADO.
I. A ORIGEM DO PECADO.
O problema do mal sempre foi considerado um dos mais profundos problemas da filosofia e da teologia. É um problema que se nos impõe naturalmente, porque o poder do mal é forte e universal, ou seja, faz parte da experiência diária na vida de todos os homens.

Para o gnosticismo, que considerava o mal inerente à matéria. O contato da alma humana com a matéria imediatamente a tornou pecaminosa, privando o conceito de pecado do seu caráter voluntário e ético. Orígenes influenciado pelo gnosticismo, alegava que as almas dos homens pecaram voluntariamente numa existência anterior (pre-existencialismo), entrarando no mundo numa condição já pecaminosa. Os ensinos da igreja oriental culminaram no pelagianismo, que negava a existência de alguma relação vital entre Adão e seus descendentes, enquanto que os da igreja ocidental chegaram ao agostinianismo, que acentuava o fato de que somos culpados e corruptos em Adão. O semipelagianismo admitia a conexão adâmica, mas sustentava que isso explica apenas a corrupção do pecado, não a culpa.

Na Idade Média o agostinianismo cedeu progressivamente espaço ao semipelagianismo. Os reformadores compartilhavam os conceitos de Agostinho, enquanto que os arminianos moviam-se em direção ao semipelagianismo. Sob a influencia do racionalismo e da filosofia evolucionista, a doutrina da queda do homem e de seus efeitos fatais sobre a raça humana aos poucos foi descartada. O conceito bíblico de pecado foi substituído pelo do mal, explicado como uma coisa pertencente à esfera super-racional, sem ter condições de ser explicado (Kant). Fruto das necessárias limitações do universo (Leibnitz), da natureza sentimental do homem (Schleiemacher), ou da ignorância humana (Ritschl). O evolucionismo o atribui à oposição das propensões inferiores à consciência moral em seu desenvolvimento gradativo.

Na perspectiva de Karl Barth (neortodoxia) a origem do pecado é um mistério da predestinação. Adão foi de fato o primeiro pecador, mas a sua desobediência não pode ser considerada a causa do pecado do mundo. De algum modo, o pecado do homem está ligado à sua condição de criatura. Gênesis 3 apenas transmite ao homem a prazerosa informação de que ele não tem por que ser necessariamente um pecador.

II. DADOS BÍBLICOS A RESPEITO DA ORIGEM DO PECADO.
A Escritura define o mal moral como pecado, isto é, como transgressão ética e voluntária da lei de Deus. Nela o homem sempre aparece como transgressor por natureza. Surge naturalmente a questão: Como O homem se tornou pecador? O que a Bíblia revela sobre esse ponto?

1. NÃO SE PODE CONSIDERAR DEUS COMO O AUTOR DO PECADO.
O decreto eterno de Deus evidentemente deu a certeza da entrada do pecado no mundo, mas não se pode interpretar isso de modo que faça de Deus a causa do pecado no sentido de ser Ele o seu autor responsável (aquele que pratica o pecado). Esta idéia é claramente excluída pela Escritura. Deus não pratica a perversidade e nem comete injustiça (Jó 34.10). Ele é o santo Deus (Is 6.3), e absolutamente não há falta de retidão nele (Dt 32.4; Sl 92.16). Ele não pode ser tentado pelo mal, e não tenta a ninguém (Tg 1.13). Ele criou o homem bom, à Sua imagem. Ele positivamente odeia o pecado (Dt 25.16; Sl 5.4; 11.5; Zc 8.17; Lc 16.15), e em Cristo fez provisão para libertar o homem do mesmo. À luz disso tudo, seria blasfemo falar de Deus como o autor (“praticador”) do pecado. E por essa razão, todos os conceitos deterministas que representam o pecado como uma necessidade inerente à própria natureza das coisas devem ser rejeitados, porque fazem de Deus o autor do pecado, contrariando, tanto a Escritura, como também a voz da consciência, que atesta a responsabilidade do homem.

2. O PECADO ORIGINOU-SE NO MUNDO ANGÉLICO.
Deus criou um grande número de anjos, e estes eram todos bons (Gn 1.31). Mas ocorreu uma queda no mundo angélico, na qual legiões de anjos se apartaram de Deus. A ocasião exata dessa queda não é indicada, mas em João 8.44 Jesus fala do diabo como assassino desde o princípio (kat’archês), e 1 João 3.8 diz que o diabo peca desde o princípio. A expressão kai’ archês significa “desde o começo da história do homem”. Muito pouco se diz sobre o pecado que ocasionou a queda dos anjos. Segundo Paulo, nenhum neófito deveria ser designado bispo, “para não suceder que se ensoberbeça, e incorra na condenação do diabo”, De 1 Timóteo 3.6 conclui-se que foi o pecado do orgulho, de desejar ser como Deus em poder e autoridade que fez o diabo cair. Judas 6 diz que os anjos que caíram “não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio”. Se o desejo de serem semelhantes a Deus foi a tentação peculiar que sofreram, isto explica por que tentaram o homem nesse ponto particular.

3. A ORIGEM DO PECADO NA RAÇA HUMANA.
A Bíblia ensina que o pecado teve início com a transgressão de Adão e, portanto, com um ato perfeitamente voluntário de sua parte. O tentador veio com a sugestão de que o homem, colocando-se em oposição a Deus, poderia tornar-se semelhante a Ele. Adão se rendeu à tentação e cometeu o primeiro pecado, comendo do fruto proibido. Mas a coisa não parou aí, pois com esse primeiro pecado Adão passou a ser escravo do pecado. Esse pecado trouxe consigo corrupção permanente, que, dada a solidariedade da raça humana, teve efeito sobre Adão, e também, sobre todos os seus descendentes.

Como resultado da Queda, o pecado foi transmitido a todos os descendentes de Adão, corrompendo tudo e todos. Jó pergunta: “Quem da imundícia poderá tirar cousa pura? Ninguém” (Jó 14.4). Adão pecou como o pai da raça humana, e também como chefe representativo de todos os seus descendentes. Por essa causa, a culpa do seu pecado é posta na conta deles, pelo que todos são passíveis de punição e morte. É primariamente nesse sentido que o pecado de Adão é o pecado de todos (Rm 5.12). Romanos 5.12 só pode significar que todos nós pecamos em Adão, de modo que nos tornamos sujeitos ao castigo e à morte. Não se trata do pecado considerado meramente como corrupção, mas como culpa que leva consigo o castigo.

Deus adjudica (sentencia, aplica) a todos os homens a condição de pecadores culpados em Adão, exatamente como adjudica a todos os crentes a condição de justos em Jesus Cristo. É o que Paulo quer dizer, quando afirma: “pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também por meio da obediência de um só muitos se tornarão justos” (Rm 5.18, 19).

III. A Natureza do Primeiro Pecado ou da Queda do Homem.
1. Quanto à sua forma, o primeiro pecado do homem consistiu em comer ele da árvore do conhecimento do bem e do mal. Não é dito que árvore era, poderia ser qualquer árvore frutífera. Nada havia de ofensivo no fruto da árvore como tal. Comê-lo não era pecaminoso per se, pois não era uma transgressão da lei moral. Quer dizer que não seria pecaminoso, se Deus não tivesse dito: “da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás”. É muito provável que a árvore recebeu esse nome porque fora destinada a revelar (a) se o estado futuro do homem seria bom ou mal; e (b) se o homem deixaria que Deus lhe determinasse o que era bom ou mau, ou se encarregaria de determiná-lo por si e para si. Mas, independente disso, a ordem de Deus para não comer do fruto da árvore tinha como propósito pôr à prova a obediência do homem. Foi um teste de pura obediência, desde que Deus de modo nenhum procurou justificar ou explicar a proibição. Adão tinha que mostrar sua disposição para submeter a sua vontade à vontade do seu Deus com obediência implícita.

2. A essência do primeiro pecado está no fato de que Adão se colocou em oposição a Deus, recusou-se a sujeitar a sua vontade à vontade de Deus de modo que Deus determinasse o curso da sua vida; e tentou ativamente determinar ele próprio o seu futuro. O homem, que não tinha absolutamente nenhum direito para alegar a Deus independência, devido a condição do pacto das obras, desligou-se de Deus e agiu como se possuísse algum direito. A idéia de que o mandado de Deus seria uma infração dos direitos do homem parece já estar na mente de Eva quando, em resposta à pergunta de Satanás, acrescentou as palavras, “nem tocareis nele” (Gn 3.3). Evidentemente satanás a convenceu astutamente de que a ordem de Deus não fora tão razoável. Partindo da pressuposição de que tinha certos direitos diante de Deus, o homem decidiu agir contra o seu Criador. Isto explica o seu desejo de ser como Deus e a sua dúvida quanto às boas intenções de Deus ao dar-lhe o mandamento de não comer da árvore. Naturalmente podem distinguir-se diferentes elementos do seu primeiro pecado. No intelecto revelou-se como incredulidade e orgulho; na vontade, como o desejo de ser como Deus; e nos sentimentos, como uma ímpia satisfação ao comer do fruto proibido.

Conclusão parcial:
(1) O pecado é um intruso, não faz parte da criação e propósito originais de Deus para o homem.
(2) O pecado sempre se manifestou como rebelião contra a vontade de Deus, tanto entre os anjos como entre os homens.
(3) O pecado nos afasta da vontade santa de Deus para nossas vidas.

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Bibliografia: Louis Berkhof, Teologia Sistemática, ECC, p. 212-214.

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