Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia-GO
Classe de Doutrina II – Quem é o Homem Par Que Dele Te Lembres?
Professores: Pr. Hélio O. Silva e Presb. Baltazar M. Morais Jr.
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Aula 14= O PECADO ORIGINAL (Romanos 5.12ss) (29/05/2011).
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1. DEFINIÇÃO:
O pecado não pertencia à constituição original da natureza humana, porque Deus não criou o homem já na condição de pecador. Adão legou à humanidade a culpa e a corrupção do pecado quando, agindo como seu representante, cometeu o primeiro pecado. O pecado original tem esse nome porque provém do primeiro pecado cometido por Adão e porque pertence (marca, contamina) a todos os homens desde o seu nascimento (Sl 51.5; 58.3).
2. OS DOIS ELEMENTOS DO PECADO ORIGINAL.
a. A culpa.
A palavra “culpa” expressa a relação que há entre o pecado e a justiça. É a penalidade da lei. Quem é culpado está numa relação penal com a lei. A culpa é o demérito moral de um ato ou estado de ser pecador. Mas a culpa também é o merecimento da punição, ou obrigação de prestar satisfação à justiça de Deus pela violação da lei. O demérito moral sempre o carregaremos conosco, mas a punição da culpa pode ser removida pela satisfação da justiça, de forma pessoal ou vicariamente. A punição da culpa é retirada dos crentes pela justificação, de modo que os seus pecados, embora merecedores de condenação, não os tornam mais sujeitos ao castigo.
Muitos negam que o pecado original envolva culpa, todavia a Bíblia ensina que a culpa do pecado de Adão, cometido por ele na qualidade de chefe representante da raça humana, é imputada a todos os seus descendentes, pois a morte, como castigo do pecado, passou de Adão a todos os seus descendentes (Rm 5.12-19; Ef 2.3; 1 Co 15.22).
b. Corrupção.
É a tendência pecaminosa do homem que inclui a ausência da justiça original e a presença positiva do mal no mesmo. A corrupção não é apenas uma moléstia ou uma privação, mas é pecado real, porque envolve tanto a queda como uma inclinação e uma disposição positiva para o pecado. Negar a culpa ligada ao pecado é negar o ensino bíblico sobre a corrupção do homem. A corrupção se apresenta na experiência humana como depravação e como incapacidade moral de se fazer a vontade de Deus.
Depravação total.
A corrupção herdada do pecado de Adão. A expressão é modernamente mal compreendida devido sua aplicação equivocada e limitada a questões sexuais hediondas. A depravação não quer dizer:
(1) que todo homem é tão completamente depravado como poderia chegar a ser;
(2) que no estado do pecado o homem não tenha nenhum conhecimento inato de Deus, nem tampouco uma consciência que discerne entre o bem e o mal;
(3) que o homem pecador não admira o caráter e os atos virtuosos dos outros, ou que é incapaz de afetos e atos desinteressados em suas relações com o próximo;
(4) que todos os homens não regenerados, por serem pecadores, se entregarão a todas as formas de pecado.
Depravação quer dizer:
(1) que a corrupção inerente do pecado contaminou todas as partes da natureza do homem, suas faculdades intelectuais, os poderes da alma e do corpo;
(2) que absolutamente não há no pecador bem espiritual algum com relação a Deus, mas somente impiedade e perversão (Rm 1.18ss; Jo 5.42; Rm 7.18, 23; 8.7; Ef 4.18; 2 Tm 3.2-4; Tg 1.15; Hb 3.12). A depravação do pecado atingiu o homem em sua totalidade (extenção) não em grau (todos os pecados cometidos são os piores que se poderiam cometer).
Na verdade a “graça comum” que age nas restrições da lei civil, as expectativas da família e da sociedade e a condenação da consciência humana, funciona como influência limitadora junto à tendência pecaminosa corruptora do coração humano.
Incapacidade total.
É o efeito da corrupção pecaminosa sobre os poderes espirituais do homem. Isso não quer dizer que o homem seja incapaz de fazer o bem nas relações da vida social e religiosa, pois muitos atos e sentimentos merecem a sincera aprovação e gratidão dos seus semelhantes, inclusive a aprovação de Deus até certo ponto. Todavia, esses mesmo atos e sentimentos, quando considerados em relação a Deus, são radicalmente defeituosos. Seu defeito fatal é que não são motivados pelo amor a Deus, nem pela consideração de que a vontade de Deus os exige.
A corrupção do homem em termos de incapacidade total, significa:
(1) que o pecador não regenerado não pode praticar nenhum ato que obtenha a aprovação de Deus e corresponda às exigências da santa lei de Deus; e
(2) que ele não pode mudar a sua preferência fundamental pelo pecado e por isso mesmo, trocando-a pelo amor a Deus; não pode sequer fazer algo que se aproxime de tal mudança. O homem é incapaz de fazer qualquer bem espiritual a não ser que Deus o mova a isso pela ação de seu Espírito no homem (Jo 1.13; 3.5; 6.44; 8.34; 15.4, 5; Rm 7.18, 24; 8.7, 8; 1 Co 2.14; 2 Co 3.5; Ef 2.1, 8-10; Hb 11.6).
3. O PECADO ORIGINAL E A LIBERDADE HUMANA.
A questão a levantada é: O pecado também envolve a perda da liberdade (livre arbítrio, vontade livre)? A resposta deve ser dupla: Sim e não. Em certo sentido, o homem perdeu a sua liberdade; noutro sentido, não a perdeu. A liberdade inalienável de um agente livre é a de escolher o que lhe agrada, em pleno acordo com as disposições e tendências predominantes da sua alma (natureza). O homem não perdeu nenhum das faculdades constitucionais necessárias para determiná-lo como um agente moral responsável. Ele ainda possui razão, consciência e a liberdade de escolha. Ele tem capacidade para adquirir conhecimento e para sentir e reconhecer distinções e obrigações morais; e os seus afetos, tendências e ações são espontâneos, de sorte que ele escolhe e recusa de acordo com o seu agrado. Além disso, ele tem a capacidade de apreciar e de fazer muitas coisas que são boas e amáveis, benévolas e justas, nas relações que ele mantém com os seus semelhantes.
Mas o homem perdeu a sua liberdade como o poder racional de determinar o procedimento, rumo ao bem supremo, sem as intromissões corruptoras do pecado na constituição moral original de sua natreza humana. O homem tem, por sua natureza, uma irresistível inclinação para o mal. Ele não é capaz de sozinho compreender e amar a excelência espiritual, de procurar e realizar coisas espirituais, as coisas de Deus, que pertencem à salvação e posteriormente à santificação. O pecador é escravo do pecado e não tem a menor possibilidade de tomar a direção oposta (Jo 8.34-36).
4. OBJEÇÕES À DOUTRINA DA DEPRAVAÇÃO E DA INCAPACIDADE TOTAL.
a. É incoerente com a obrigação moral porque não se pode responsabilizar com justiça o homem por uma coisa para a qual ele não tem a capacidade de realizar. Mas a incapacidade do homem é auto-imposta, tem origem moral no homem e não em alguma limitação que Deus lhe tenha imposto. O homem é incapaz como resultado da escolha pervertida que fez em Adão.
b. Ela retira todos os motivos para o esforço porque se sabemos que não conseguiremos levar a efeito um determinado fim, por que havemos de utilizar os meios recomendados para a sua realização? Todavia, é perfeitamente certo que o pecador iluminado pelo Espírito Santo e verdadeiramente cônscio da sua incapacidade natural, renuncia à justiça das obras. Mas o homem natural é totalmente dominado pela justiça própria, por isso não busca auxílio em Deus.
c. Favorece o atraso da conversão. Se o homem crer que não poderá mudar o seu coração, que não poderá arrepender-se e crer no Evangelho, achará que pode aguardar passivamente a ocasião em que Deus agrade mudar a direção da sua vida. A experiência ensina que há alguns que de fato adotam essa atitude; mas o efeito prático da doutrina na vida do verdadeiramente salvo é completamente diferente. Se o pecador acha que pode mudar a sua própria vida a qualquer momento diante de Deus, seria tentado a deixar essa mudança para o último momento. Mas, se ele perceber que essa realização tão desejável está fora dos limites das suas forças, instintivamente procurará rapidamente auxílio de fora. Essa é a essência dessa doutrina.
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Bibliografia: Louis Bekhoff, Teologia Sistemática, ECC, p. 239-245./ J. I. Packer. Teologia Concisa; ECC, p. 77,78./ Charles Hodge. Teologia Sistemática, Hagnos, p.652-674./ Wayne Gruden. Teologia Sistemática; Vida Nova, p.406-410./ J. Gresham Machen. Visión Cristiana Del Hombre; El Estandart de La Verdad, p. 224-236./ Confissão de Fé de Westminster IX.3.