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O Espírito Santo e os Cristãos (Aula 12)


Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia-GO
Classe de Doutrina II – Na Dinâmica do Espírito
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Aula 12 = O Espírito e os Cristãos 20/06/2010.
Na Dinâmica do Espírito. J. I. Packer; Vida Nova, p. 63-72.
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O papel central do Espírito Santo é mediar a presença de Cristo nos cristãos e na Igreja, ou seja, o Espírito está aqui para glorificar a Cristo para nós e em nós. Ignorar esse ponto fundamental tem resultado numa abordagem ao ministério do Espírito centralizado no cristão e não em Cristo, ou seja, no homem e não em Deus. É preciso corrigir essa abordagem começando por nossa relação com o Espírito no que diz respeito a como chegamos a conhecer a Deus.

NOVO NASCIMENTO.
A vida cristã começa com o novo nascimento (nascer de novo) que é operado pelo Espírito Santo (Jo 3.3-8; I Pe 1.23; Tg 1.18). Nascer de novo é nascer do Espírito (Jo 3.6). A menção ao “nascer da água” não é uma afirmação da regeneração batismal, mas uma ilustração do aspecto purificador e renovador do Espírito agindo no novo convertido. O novo nascimento também é chamado de regeneração (Tt 3.5) e nova criação (II Co 5.17; Gl 6.17). No novo nascimento somos unidos a Cristo em sua morte e ressurreição que transforma a vida (Rm 6.3-11; Cl 2.12-15). O processo de se tornar cristão acontece pela fé depositada no sangue de Cristo derramado na cruz (Rm 4.16-25; 10.8-13; Cl 2.12). Essa união com Cristo é retratada em termos da relação entre cabeça e membros de um corpo (I Co 12.12-27).
Isso quer dizer que viver pela fé é viver sob o poder sobrenatural de Deus. Por isso devemos evitar o erro de interpretar a experiência do novo nascimento como algo operado pela fé do crente e não pelo poder de Deus. Pensar desse modo produz dois resultados negativos:

1. A nossa mente fica possuída de uma expectativa-padrão de uma experiência emocional por ocasião da conversão (emocionalismo). Isso é deduzido das narrativas de conversões dramáticas narradas tanto nas Escrituras quanto nos livros de história da igreja (Paulo, Agostinho, Lutero, Bunyan, Wesley e a nossa). Usa-se a experiência para determinar a veracidade de uma conversão ou não. Isso é tolo e triste, pois empobrece a multiforme ação e poder do Espírito para trazer vários tipos de pessoas diferentes a Cristo. Não se pode padronizar por padrões da experiência a ação sobrenatural do Espírito. Johnathan Edwards e os puritanos já haviam entendido antes de nós que “nenhum estado emocional ou seqüência como tal, nenhuma experiência isolada considerada separadamente, pode ser um indicador iniludível do novo nascimento e cometeremos erros sem fim, se pensarmos e julgarmos de outra forma” (p.66). Somente uma vida de conversão constante pode justificar que uma pessoa se converteu no passado.

2. Tirar Cristo do centro da evangelização apresentando-o mais como uma resposta a anseios egocêntricos do que como o salvador da vida. Cristo não é somente aquele que traz paz à consciência; alívio na angústia ou tribulação; que dá alegria e felicidade ou nos carrega de poder para vencer. Ele é o Senhor e rei que resgata o seu povo. Esse erro tem a ver com um discipulado deficiente e muitas vezes infiel às escrituras; que não leva as pessoas a calcularem o preço do discipulado. O resultado imediato é uma evangelização que colhem grandes ceifas de pessoas não convertidas que não perseverarão no caminho ou que tentarão reinterpretar Jesus de acordo com suas experiências e desejos do coração. Esse erro torna atrativa a mensagem cristã para aquelas pessoas que acham que Deus sempre as protegerá de tudo.
O primeiro grupo se torna um peso morto nas igrejas e o segundo experimentará desenganos traumáticos e muitas desilusões por terem crido equivocadamente num evangelho que não era o evangelho de Cristo. Falsas expectativas é o resultado de uma evangelização também falsa, porque centralizada no homem. Evangelizar não é “vender” a Cristo como se ele fosse um produto mercadológico, mas a proclamação de sua vitória sobre a morte para tratar de nossos pecados e não de nossas expectativas quanto a sonhos e desejos particulares, exaltando benefícios e minimizando responsabilidades.

Como essa subjetividade estereotipada de nossa evangelização pode ser corrigida?
(a) Entrando NA DINÂMICA DO ESPÍRITO que focaliza a Cristo como Deus salvador, modelo de ser humano, juiz vindouro; que ama os fracos, pobres e desanimados; como nosso líder ao longo do caminho da cruz que ele mesmo já caminhou. Devemos enfatizar que a evangelização não depende de sentimentos, mas da entrega pessoal a este Cristo/Senhor; conscientes que a única prova de uma conversão passada é uma constante conversão presente e que Cristo deve ser adorado tento como palavras de louvor quanto com obras de serviço (p.67).

(b) corrigir a idéia da vida cristã como um mar de rosas (só de vitórias), sabendo que Cristo jamais nos levará por caminhos por onde ele mesmo não tenha passado, especialmente o caminho da cruz, pois nos convidou a tomarmos a nossa cruz dia a dia e segui-lo (Lc 9).

(c) Corrigir conceitos errôneos sobre a entrega a Cristo equilibrando uma leitura dos quatro evangelhos com o resto do Novo Testamento, porque os evangelhos equalizam nosso discipulado. As doutrinas do discipulado estão nas epístolas, mas a sua natureza está nos evangelhos. Esse equilíbrio é importante para que não nos mostremos mais interessados em noções teológicas que comunhão com Cristo. O papel da teologia é levar-nos a entender melhor o nosso próprio relacionamento de discípulos com Cristo.

CONHECER E AMAR A DEUS.
Todos os que crêem recebem o Espírito (At 2.39; Gl 3.2) que nos é dado como um selo que nos marca como propriedade de Deus (II Co 1.22; Ef 1.13) passando a partir desse ponto a habitar em cada cristão (Rm 8.11). Morando em nós, ele participa de tudo o que acontece conosco, não passivamente, mas ativamente transformando-nos à semelhança do caráter moral de Cristo (II Co 3.18).
Esse processo de conhecer e amar a Deus é chamado de SANTIFICAÇÃO. Esse caminho de santificação é o andar no (pelo) Espírito de Gálatas 5.16. Santificar-se é dizer não aos desejos da carne e sim à vontade do Espírito, que produz em nós o seu “fruto”, que nos é definido como um perfil de semelhança com Cristo (Gl 5.22,23). Santificar-se é imitar a Cristo em humildade, amor e justiça, evitando o pecado (Jo 13.12-15, 34,35; 15.12,13; Ef 5.1,2; Fp 2.5-8; I Pe 2.21-25; Hb 12.1-4). Santificar-se é amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo (Mc 12.29-31; Lc 10.25-37).
O que incomoda é quando e como essas verdades se tornam (ou devem se tornar) experiência pessoal. Muitas vezes os evangélicos são fortes em doutrinar e fracos em praticar. Toda a nossa compreenção dos aspectos práticos da vida cristã deve ser levantada partindo de uma compreenção bíblica, identificada segundo critérios bíblicos e interpretada por teologia bíblica.

(1) Mesmo conscientes e comprometidos com as escrituras precisamos saber que experiências com Deus são imediatas e soberanas, ou seja, não estão debaixo do nosso controle; não podem ser exigidas ou preditas, elas simplesmente acontecem como vontade de Deus para nós. O espírito dá percepção ao discípulo amoroso e obediente cumprindo uma promessa de Cristo de estar conosco sempre e se manifestar a nós (Jo 14.18, 20-23). Experiências são na verdade a forma como “percebemos” a vida cristã.
Um percepção é diferente de conhecimento, ainda que venha a nós também pela memória, porque muitas vezes são definidas por decisões imediatas que são tomadas como fruto de discernimento. Essa percepção também não pode ser confundida com auto-percepção, porque confunde intuição humana com ação divina e descamba para o misticismo (mais presente no hinduismo que no cristianismo) que não passa de ilusão do coração (Jr 17.17).
Essa confusão é mais comum do que gostaríamos de aceitar. Uma esfera do misticismo cristão que precisa ser recuperada com as devidas adequações é a descrição do amor de Deus por nós e nosso por ele em termos do casamento entre um homem e uma mulher. Esse amor apaixonado é uma analogia criativa (e bíblica) de nossa relação com Deus que torna nossa percepção de Deus intensamente aguçada. Essa linguagem não despersonaliza Deus e nem nós. O que é importante é a percepção aguçada de sermos amados por Deus e o amarmos como resposta a esse amor paterno, identificando-nos e ligando-nos com Deus eternamente.

(2) A realidade experimental da vida cristã também esbarra no problema da modernidade (urbanizada, coletivizada, mecanizada e secularizada). Falar de uma vida interior de comunhão com Deus parece ser falar de perda de tempo. Separar tempo para orar é perder tempo, meditar nas escrituras é perder tempo. O mundo corre e tenta nos levar á força com ele. Quem tentar fazer mesmo assim é considerado excêntrico até na igreja mais consagrada!

Quais as causas do novo interesse na vida piedosa?
1. A heterodoxia observável ou indiferença doutrinária dos principais proponentes modernos da vida piedosa tem levado a atitudes fanáticas e antinomistas (contrárias a regras de conduta).

2. A devoção evangélica é firmemente orientada no sentido de ouvir Deus falar nas escrituras que qualquer coisa além disso imediatamente se torna suspeita.

3. É preciso reconhecer que mesmo identificando as causas, o resultado prático é que quanto a esses aspectos práticos da ação santificadora de Deus temos muito que aprender, porque nossa experiência não atinge nem de longe a riqueza do que é prometido nas escrituras e que foi vivenciado por muitos servos e servas de Deus do passado.

Onde temos dificuldades?
a. Na definição do Espírito como “unção” através da qual os crentes recebem a certeza da realidade de Jesus Cristo (I Jo 2.20,27).
b. No papel do Espírito como testemunha interior no crente de que este é filho de Deus e herdeiro com Cristo (Rm 8.15-17; Gl 4.6).
c. Compreender em que sentido o Espírito é o “penhor” (entrada) e as primícias da vida celestial com Cristo (Ef 1.13,14; Rm 8.23; II Co 1.22).
d. No que é orar no Espírito (Ef 6.18; Jd 20) e o amor no Espírito (Cl 1.8; Rm 15.30).

A conclusão prática de Packer é que os cristãos modernos “são fracos no que tange à vida interior”. Isso se aplica a todos os ramos do cristianismo, tanto os históricos quanto os pentecostais. Mesmo com todas as nossas dificuldades sabemos que o que abre o cofre das respostas a essas indagações é a ação do Espírito explicitada por Cristo em João 16.14, que é a sua obra de tornar Jesus Cristo, nosso Salvador crucificado, ressurreto e reinante, real e glorioso para nós, a cada momento.

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