Introdução:
Em busca de algo mais...
A porta de entrada para o falso ensino nas igrejas sempre orbitou em torno de uma pregação depreciativa da suficiência do evangelho e da reintrodução de uma doutrina sinergista, na qual o papel do homem fosse supervalorizado em detrimento da operação da livre graça de Deus no homem.
No fim das contas a proposta de algo mais sempre se reverteu na instituição de uma nova escravidão por meio da subjugação das consciências à bajulação dos falsos mestres.
Para Paulo não rodeios, o nome disso é perversão, ou o abuso daquilo é certo a fim de gerar uma fonte de lucro pessoal e manipulação das consciências para ter poder sobre elas.
Quem quer mais que o evangelho oferece está flertando com a perversão, confundindo liberdade com libertinagem e acabará bebendo de uma fórmula que não será nem mágica nem nada, mas que o envenenará com a apostasia e o abandonará na perdição.
Contexto:
Por isso Paulo é tomado por um sentimento de alarme e de urgência, porque as igrejas da Galácia foram infectadas pelo veneno de uma heresia mortal e seduzidas pela proposta indecente e adúltera da salvação pelas obras camuflada no oferecimento de uma liberdade que dá ao homem a ilusão de que ele mesmo pode salvar-se.
Um detalhe que não pode escapar à nossa atenção é que falta aquela oração inicial que Paulo faz em favor de cada uma das igrejas às quais ele escreve. Ele ora pela problemática igreja de corinto dividida e insubmissa, mas não ora pelos gálatas que estão trocando a suficiência do evangelho por uma perversão do mesmo que é o evangelho judaizante da salvação pelas obras!
Paulo abandona o tom sereno e gracioso da oração, pela agitação de uma mãe que vê seus filhos a ponto de morrerem envenenados por acreditarem nas promessas falsas de vendedores desqualificados.
Proposição:
Paulo trata nessa seção da composição dessa fórmula que sempre fez muito mal à Igreja, que é a fórmula da apostasia, a combinação entre o ensino falso e a INFIDELIDADE de uma fé inconstante. Há três argumentos no texto:
I) APOSTASIA É FRUTO DA INFIDELIDADE V.6:
a)Apostasia é uma troca de fidelidade.
Paulo fica admirado porque eles “estão passando tão depressa” do evangelho verdadeiro para outro que não é verdadeiro.
Note-se no texto que o verbo “metatiqeste” “estejais passando” está na voz ativa e não na voz passiva; e no tempo presente e não no passado, significando que essa era a experiência presente das igrejas da Galácia como fruto de um abandono deliberado, pensado do evangelho a eles pregado por Paulo inicialmente. Essa palavra significa “transferir a fidelidade”. Era aplicada a soldados desertores ou rebeldes e a pessoas que trocam de partido político ou crença filosófica. Quem fazia isso era chamado de “vira-casaca”.
Paulo usa duas preposições para mostrar o movimento dessa troca. Eles partiram de perto (apo = partindo de) do evangelho verdadeiro para dentro (eis) de um evangelho falso. No capítulo 3 ele vai dizer que eles começaram no Espírito e estavam se aperfeiçoando na carne. Eles estavam trocando deliberadamente o evangelho da graça por um evangelho de obras!
b)A apostasia causa admiração.
A admiração de Paulo não é positiva, mas negativa, ela é um assombro, um susto! Como a mãe que percebeu que os filhos haviam bebido um veneno e que isso os mataria caso algo urgente não fosse feito a favor deles!
O espanto vem não somente da não percepção das sutilezas enganadoras, mas da prontidão em abraçá-las como se fossem verdades puras. Ainda mais porque no verso 9 ele dirá que os havia prevenido.
O que causava admiração era o efeito final da apostasia, eles estavam deixando a Deus que os “chamara” na graça por outra mensagem que jamais os levariam a conhecê-lo de fato, na experiência diária.
Essa é a grande questão, não é possível separar a teologia da prática. Teologia enganosa não produz prática saudável, mas apenas uma perversão falsa. Afastar-se do evangelho da graça é afastar-se do Deus da graça.
II) A APOSTASIA É FRUTO DO ENSINO FALSO COMO PERVERSÃO DO EVANGELHO VERDADEIRO V. 7:
a) O ensino falso traz perturbação à fé da igreja.
Os falsos mestres eram “judaizantes”. Paulo resume a proposta deles em Atos 15.1: “Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos”. Não negavam a necessidade de se depositar fé em Cristo, mas que isso não era suficiente; era preciso também e, “além disso”, a circuncisão acompanhada da guarda da Lei. Moisés deveria completar o que Cristo havia iniciado. Isso era o mesmo que dizer que a nossa obediência à Lei é que era o fator decisivo na salvação, acrescentando à obra de Cristo as nossas próprias.
Paulo chama a isso de “perturbação”, uma sacudida violenta, que produziu confusão e divisão nas igrejas gálatas. A palavra é repetida no Concílio de Jerusalém (At 15.24). No concílio ficou claro que os judaizantes eram motivados por vontade própria e não por um envio autorizado e reconhecido pela igreja, argumento que Paulo explorará na próxima seção e no capítulo 2.
b) O ensino falso é uma perversão do evangelho verdadeiro.
A perturbação era causada por uma perversão do evangelho verdadeiro. A ERAB traduz por “distorção” e J. B. Philips por “falsificação”. O sentido literal do texto é “inverter”, fazê-lo ser o que não é. O sentido não é o de entortar, mas o de mudar o que ele é.
Os falsos mestres estavam perturbando a igreja alterando o evangelho para eles. O caso é que a falsificação sempre produz como resultado final perturbação. Alterar a essência do evangelho é alterar a essência da igreja. É fazer a igreja ser o que ela não é!
Na história da igreja seus maiores inimigos nunca foram os opositores externos, mas aqueles que internamente, dentro da igreja, tentam alterar o evangelho no qual a igreja crê. Portanto, o verdadeiro servo é aquele que crê no evangelho e a ele se entrega e submete.
III) A APOSTASIA SERVE AOS PROPÓSITOS DE HOMENS, O VERDADEIRO EVANGELHO SERVE AOS PROPÓSITOS DE DEUS V. 8-10:
a)O evangelho não pode ser mudado nem por apóstolos e nem por anjos.
Citação: Quando o diabo não consegue atrair a igreja para o pecado, ele tenta enganá-la com falsas doutrinas, por isso qualquer tentativa de mudar o evangelho servirá somente aos seus propósitos.
O evangelho é de Deus e nem anjos, inclusive satanás, e nem homens, inclusive a igreja ou os próprios apóstolos, podem mudá-lo ou alterá-lo sem incorrer na condenação de Deus.
b)Perverter o evangelho é trazer sobre si a maldição de Deus.
Paulo usa duas vezes a expressão “anáthema”, que era usada na LXX para indicar banimento por parte de Deus, sua maldição sobre qualquer pessoa u coisa que ele destinasse à destruição. Um anáthema era o desejo de que o juízo de Deus recaísse sobre aquele que foi infiel a Deus.
Uma pessoa “anathematizada” era uma pessoa rejeitada por Deus, e portanto, não poderia ser bem recebida nas igrejas. Duas observações precisam ser feitas sobre essa invocação de anáthema por parte de Paulo.
1)Ela é proferida de forma geral e não apenas sobre os falsos mestres da Galácia. Sobre todo aquele que pervertesse o evangelho deveria recair essa maldição.
2)O anúncio da maldição é deliberada e consciente por parte do apóstolo. Reflete uma decisão tomada com reflexão e não de forma apressada ou deliberada, razão pela qual Paulo a repete com o fim de reforçar o seu sentido.
c)Quem perverte o evangelho para agradar a homens não é servo de Cristo.
Paulo avança afirmando que quem tentar perverter o evangelho não é servo de Cristo, mas busca o favor de homens. Os falsos mestres acusavam Paulo de ser oportunista e bajulador, mas a linguagem firme dele contra os falsos mestres mostra que isso não era verdade.
O que está em jogo?
1)A glória de Cristo e do seu evangelho. Dizer que a obra de Cristo precisava do suplemento das obras era o mesmo que dizer que ela não era completa e nem plenamente satisfatória.
2)O bem estar da igreja. Paulo não defende doutrinas triviais, mas aquela que era o centro do evangelho da graça. Ele argumenta contra mestres que sabiam o que ensinavam e não pessoas com pontos de vista equivocados. Perverter o evangelho é tornar nulo o seu poder que salva o pecador (Rm 1.16,17). Quem faz o próximo tropeçar, melhor seria pendurar uma pedra ao pescoço e lançar-se no mar (Mc 9.42).
Aplicações:
1)O verdadeiro evangelho magnifica a livre graça de Deus.
2)O verdadeiro evangelho tem sua origem em Deus e foi anunciado pelos apóstolos de Cristo.
Conclusão:
Em busca de algo mais...
Por três vezes Paulo nos chama atenção para o fato de que a proposta de um novo evangelho é a promessa de algo mais, ou a afirmação de que falta alguma coisa naquilo que é verdadeiro.
Quantas vezes as pessoas rejeitaram o evangelho por julgá-lo sem graça e insuficiente para preencher suas necessidades imediatas.
As pessoas estão sempre em busca de algo mais, e de forma insaciável continuam rejeitando, como crianças mimadas, aquilo que lhes é oferecido como suficiente. No entanto Deus não lhes oferecerá algo mais, Deus lhes oferece o evangelho da suficiente graça por meio de Cristo.
Você pode aceitar o evangelho e Cristo e descansar eternamente na graça de Deus ou continuar trocando de fidelidade indefinidamente, caminhando sobre o fio da navalha até descobrir que passou do ponto e estar mais longe de Deus do que quando conheceu o verdadeiro evangelho e o trocou por algo que prometia muito, mas não lhe deu nada!
Como será?