Pular para o conteúdo principal

Aula 04 = A Pessoa Única


Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia-GO
Classe de Doutrina II – Quem É O Homem Para Que Dele Te Lembres?
Professores: Pr. Hélio O. Silva e Presb. Baltazar M. Morais Jr.
------------------------------------------------------------------------------------
Aula 04 = A Pessoa Única. 13/03/2011.
-------------------------------------------------------------------------------

Na primeira aula afirmamos que Deus o homem conforme a sua imagem e semelhança e o colocou numa posição exaltada, todavia, Deus não criou o homem para viver só. Ele criou um homem e uma mulher e os ordenou que povoassem e dominassem a terra que ele criou. Todavia, Deus os criou como pessoas diferentes e únicas. Isso nos leva a pensar sobre o que a Bíblia ensina sobre a dignidade humana.
Por causa da vida em sociedade aprendemos que a experiência de vida de cada pessoa deve ser submetida à experiência de vida da sociedade mais ampla, em que ele precisa e espera ser formado e disciplinado por objetivos e ideais que superam sua experiência pessoal. Essa relação do pessoal com o coletivo pode gerar uma submissão opressiva onde e quando a sua dignidade pessoal sofrerá danos por causa das exigências do Estado, da moda ou das convenções sociais. Mas também pode gerar uma exagerada ênfase na importância do indivíduo a ponto de provocar o desrespeito e do abuso. Como podemos entender a dignidade humana aos olhos de Deus?

1. A Dignidade Humana
Aos olhos de Deus cada pessoa é única e preciosa porque foi criada à sua imagem e semelhança. Esse é o fundamento da proibição do assassinato, e, por mais repulsivo que nos pareça, da pena de morte (Gn 9.6 = “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem”). A declaração bíblica declara da forma mais forte possível a dignidade e importância da pessoa e da raça humana para Deus. A guarda do sábado também tem o seu fundamento na preservação da vida humana (Ex 20.10), porque visa preservar o homem da idolatria desonrosa do esforço humano e exploração do trabalho alheio.
Essa dignificação da vida como única e preciosa é vista de várias formas no Antigo Testamento: no zelo pela vida dos pais (Ex 21.15); de um escravo (Ex 21.20,21), de um feto (Ex 21.22-24) e de qualquer estranho (Ex 21.12). Essas leis contra a violência escritas em Êxodo 21 mostram que cada pessoa tem valor único, mas esse valor deve ser avaliado em função da contribuição que é capaz de fazer à sociedade. Esse valor também precisa ser avaliado de forma inversa pela contribuição que já foi dada: Os pais devem ser honrados por terem sido o meio de Deus ter nos trazido à vida (Ex 20.12; 21.17). Os idosos devem ser respeitados porque já contribuíram com a sua parte (Lv 19.32), visto que a sabedoria comumente anda de mãos dadas com a sabedoria e a insolência contra o idoso é presságio do infortúnio (II Rs 2.23-25, Is 3.5). Nenhuma distinção deve ser feita entre as pessoas, porque Deus é o juiz e não faz acepção de pessoas quanto à justiça (Dt 10.17,18).
Cristo mostra a mesma preocupação ao ensinar no Sermão do Monte que as nossas ações referentes aos outros são inseparavelmente relacionadas às nossas ações a respeito de nós mesmos (Mt 5.21-48) e que o meu próximo não somente aquele que precisa da minha ajuda, mas aquele que me ajuda mesmo quando não lhe dou o devido valor e reconhecimento como na parábola do Bom Samaritano (Lc 10.29-37), onde o judeu ferido por outros judeus salteadores, foi socorrido por um samaritano que ele odiava. A parábola precisa ser interpretada por essas duas vias. A afirmação mais surpreendente de Cristo quanto a isso é que quem socorre ao necessitado o faz a Deus (Mt 25.34-40). A dignidade humana vem da dignidade absoluta de Deus ao criarmos à sua imagem e semelhança. A conclusão óbvia é que a afirmação da dignidade humana pessoal só é compreensível à luz da nossa relação com os outros, e tanto os outros como “eu” somos envolvidos por essa dignidade através de Cristo (Sherlock, p.159).
A dignidade de cada pessoa está fundamentada tanto na criação quanto na nova criação (redenção) em Cristo.

2. A Liberdade Humana.
O conceito de liberdade das escrituras é radicalmente do conceito de liberdade da pós-modernidade. Devido à criação divina não é possível falar de liberdade como “autonomia”, visto que Deus criou o homem para viver num ambiente interativo. Liberdade segundo as escrituras leva em conta de onde ela veio e para onde ela vai.
Tanto o ser humano quanto a sua liberdade são determinados primariamente pelo propósito para o que foram feitos, que é a glorificação de Deus por meio da vida na sua imagem. Viver de outra forma é tão letal quanto um pássaro querer voar no mar ou um peixe nadar no ar.
O conceito de autonomia preconiza a tentativa humana de libertar-se do propósito bíblico da criação, que é viver para Deus. Vivendo no pecado e escravo deste o homem luta por ser livre dos sistemas que ele mesmo desenvolveu tentando viver livre de Deus. Liberdade de sistemas econômicos opressivos, de famílias manipuladoras, da incapacidade pessoal e de problemas psicológicos por mais justas que sejam, refletem as lutas humanas contra tudo o que ele mesmo criou fugindo de viver para Deus.
Deus deu a Lei, por exemplo, para sustentar a dignidade humana, mas nós a transformamos em um conjunto de regras que tentamos manipular para tentar controlar nosso destino e a vida dos outros. É por isso que o conceito bíblico de pecado é rebelião contra Deus e a sua palavra (voltaremos a esse tema mais adiante), e a redenção em Cristo é descrita como salvação e como libertação do pecado e sua condenação (Jo 8.31-36).
Nas escrituras, viver de forma livre é viver como servos de Deus! (Rm 6.17-22). Dessa forma fica claro que Deus não criou o homem para a autonomia, mas para a cooperação. Ele foi criado para participar da obra criadora e criativa de Deus como um administrador que usufruiria de tudo, mas também como alguém que prestaria contas de sua livre ação a Deus. Todas as decisões humanas seriam livres debaixo do soberano governo do criador.
É por isso que a Bíblia fala da dignidade humana, mas não fala de direitos humanos. Porque tratar de direitos humanos à parte da afirmação da dignidade de terceiros é um profundo egoísmo. A dignidade e o mérito de cada um e a conseqüente prática da justiça acontecem dentro do conceito bíblico de vida em comunidade onde e quando se deve servir uns aos outros por amor ao Deus criador, de quem todos somos igualmente servos.
Esse conceito de liberdade, segundo as escrituras dignifica o homem, mas a entrada do pecado na experiência humana irá danificar a sua aplicação, de modo que as escolhas humanas não serão mais para glorificar a Deus e sim uma tentativa de glorificar a si mesmo.
Agostinho, escrevendo contra Pelágio, afirmou: “Cada escolha (de Adão) entre alternativas era feita a serviço de Deus. Então adão escolheu (voluntas – vontade) uma criatura (ele mesmo!) em vez de Deus como base de sua felicidade... e foi constituído como alguém que não ama a Deus, alguém que ama a si mesmo... E essa é uma situação na qual não se é livre para escolher... A dinâmica da imago dei (imagem de Deus) é tal que se a imagem é distorcida, a pessoa é radicalmente deformada e escravizada (Sherlock, p.163).
Distorcer a imagem de Deus significou para o homem colocar em perigo sua dignidade diante de si mesmo e vender sua liberdade á escravidão do pecado. Entregar-se a Cristo é a única forma de retomar seu valor e reencontrar a liberdade que Deus projetou para a humanidade.

Conclusão:
Os conceitos bíblicos de dignidade e liberdade trazem profundas implicações e aplicações para a nossa vida prática: Significa que devemos tratar com respeito e igualdade todas as raças, tais como os estrangeiros que vivem entre nós. Devemos tratar com dignidade e proteger os idosos, os mentalmente retardados; os gravemente doentes, os fetos no ventre materno.
Se diminuirmos o valor desses, diminuiremos o valor de todos os demais e, em função do pecado, os trataremos inferiores e como menos do são para Deus. Glorificar a Deus é também reconhecê-lo no próximo como feito à sua imagem e semelhança por entender que ninguém mais se parece tanto com Deus do que nós, a raça humana.

-----------
Bibliografia: Charles Sherlock, A Doutrina da Humanidade – Série Teologia Cristã, ECC, p.157-174. R. K. Harrison, Levítico, Introdução e Comentário, Vida Nova/Mundo Cristão, p.187.

Postagens mais visitadas deste blog

A Armadura de Deus (1ª parte) - Efésios 6.14-17

Pastoral: A Armadura de Deus (Efésios 6.14-17) Por que muitos crentes ignoram os ensinamentos bíblicos quanto à armadura de Deus? Porque muitos crentes conhecem pouco da Palavra de Deus, outros tantos duvidam da visível atuação de Deus, muitos a ignoram, outros porque julgam ser um exagero de Paulo na sua linguagem, outros acham que essa época já passou, alguns por pura negligência mesmo, e outros mais, por causa de já terem sofrido tantas derrotas que já estão praticamente inutilizados em sua espiritualidade pelo inimigo.   Por outro lado, há daqueles que estão lutando desesperadamente, mas com as armas que não são bíblicas.      A exortação de Paulo é para que deixemos de ser passivos e tomemos posse das armas espirituais que em Cristo Deus coloca à nossa disposição. É a armadura de Deus que nos permitirá resistir no dia mal, conduzir-nos à vitória e garantir a nossa permanência inabalável na fé.           Paulo não está falando de armas físicas que dev

O Uso da Sarça Como Símbolo da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB)

O Uso da Sarça Como Símbolo da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) O artigo da Wikipedia sobre a sarça ardente ("Burning bush") informa que ela se tornou um símbolo popular entre as igrejas reformadas desde que foi pela primeira vez adotada pelo huguenotes em 1583, em seu 12º sínodo nacional, na França. O lema então adotado, "Flagor non consumor" ("Sou queimado, mas não consumido") sugere que o símbolo foi entendido como uma referência à igreja sofredora que ainda assim sobrevive. Todavia, visto que o fogo é um sinal da presença de Deus, aquele que é um fogo consumidor (Hb 12.29), esse milagre parece apontar para um milagre maior: o Deus gracioso está com o seu povo da aliança e assim ele não é consumido. O atual símbolo da Igreja Reformada da França é a sarça ardente com a cruz huguenote. A sarça ardente também é o símbolo da IP da Escócia (desde os anos 1690, com o lema "Nec tamen consumebatur" - E não se consumia), da IP da Irlanda

21 = Oração Pelo Ministério - Romanos 15.30-33 (2)

Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia-GO Grupo de Estudo do Centro – Fevereiro a Junho/2013 Liderança: Pr. Hélio O. Silva , Sem. Adair B. Machado e Presb. Abimael A. Lima. --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 21 = Oração Pelo Ministério – Romanos 15.14-33 (2) .          26/06/2013. Um Chamado à Reforma Espiritual – D. A. Carson, ECC, p. 216 a 229. --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 30 Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor,   31 para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judéia, e que este meu serviço em Jerusalém seja bem aceito pelos santos;   32 a fim de que, ao visitar-vos, pela vontade de Deus, chegue à vossa presença com alegria e possa recrear-me convosco.   33 E o Deus da paz seja com todos vós.