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O Catolicismo Colonial - Os Primeiros Missionários Católicos no Brasil


Seminário Presbiteriano Brasil Central – SPBC

História da Igreja Brasileira – 2018

Rev. Helio de Oliveira Silva

Unidade 1 – Catolicismo Colonial  • A Presença Portuguesa e o Padroado  • Missões Católicas

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Primeira Missa no Brasil
  


O CATOLICISMO NO BRASIL COLONIAL[1]



A Primeira Missa

No dia 26 de abril de 1500, num banco de coral na praia da Coroa Vermelha no litoral sul da Bahia, foi rezada uma missa de Páscoa. Uma cruz foi fincada num banco de areia na região de Porto Seguro-BA. Pero Vaz de Caminha escreveu na sua carta ao rei de Portugal:

"E quando veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles (os índios) se levantaram conosco e alçaram as mãos, ficando assim, até ser acabado: e então tornaram-se a assentar como nós... e em tal maneira sossegados, que, certifico a Vossa Alteza, nos fez muita devoção."[2].

Os nativos, dóceis, se portaram de tal modo que Caminha convenceu-se da fácil conversão deles no futuro, solicitando também o envio de um par de padres, “dos bons”, para iniciar o trabalho da evangelização católica no Brasil.



A decisão de vir ocupar o Brasil

A Coroa Portuguesa demorou quase meio século para enviar os primeiros missionários jesuítas ao Brasil para fins de catequese. As políticas anteriores de ocupação da nova terra (o arrendamento ao consórcio de cristãos-novos de Fernão de Noronha, e, depois, a doação de capitanias), redundaram em fracasso. Foi o acirramento do combate teológico contra os protestantes, e as visitas das naus bretãs e flamengas atrás do pau-brasil, quem fez o rei retomar o interesse pela colonização do Brasil. Tinha urgentemente que ocupar os pontos estratégicos da costa e por os “hereges” para correr. Ou tomava conta de vez, ou perdia tudo.



Os primeiros seis missionários

O catolicismo trazido por eles foi o da Contra-Reforma. Os três instrumentos da Contra-Reforma para barrar o crescimento do protestantismo foram: A Sociedade de Jesus (1540), a Inquisição Romana (1542) e o Concílio de Trento (1545-1563).[3]

Nos barcos de Tomé de Souza, o fundador de Salvador, vieram junto, em 29 de março de 1549, os soldados de Cristo, os homens-de-preto, os jesuítas da recém fundada ordem de Inácio de Loyola – a Companhia de Jesus. Eram apenas quatro. O Padre Manoel da Nóbrega e o Padre Aspicuelta Navarro foram os mais famosos. Depois, veio também o Padre José de Anchieta que chegaria ao Brasil em. A eles juntaram-se mais dois: Antônio Rodrigues, um ex-soldado mestre nos idiomas nativos, e Pêro Correia, um ricaço que decidira-se pelo hábito talar. O trabalho era imenso. Evangelizar aquela massa de gentios, com mil falas, que se espalhava por aquele mundão todo, era tarefa de gigantes.

Manoel de Nóbrega
O líder da comissão de missionários jesuítas foi Manoel de Nóbrega (18/10/1517-18/10/1570). Tinha 32 anos e fazia parte dos jesuítas desde 1544. No primeiro ano no Brasil eles moraram com indígenas. Nóbrega ficou pouco tempo na Bahia e depois se transferiu para a capitania de São Vicente, onde fundou em 1554 a aldeia e o Colégio de São Paulo. Além disso, participou da fundação de Salvador e do Rio de Janeiro e na luta contra os franceses como conselheiro de Mem de Sá. Juntou-se (1563) a Anchieta e iniciaram o trabalho de pacificação dos índios tamoios, que retiraram seu apoio aos invasores franceses, sendo estes finalmente derrotados.[4]

Foi provincial da ordem jesuíta no Brasil de 1553-1560. Escreveu a primeira obra literária produzida no país: Diálogo Sobre a Conversão dos Gentios (1557), e Cartas do Brasil, que servem como documentos históricos sobre o Brasil colonial e a ação jesuítica no século XVI. Faleceu aos 53 anos no Rio de Janeiro, no dia de seu aniversário.
José de Anchieta

José de Anchieta (1534-1597). Em 1553, com 19 anos, vem ao Brasil em missão jesuítica pela catequese dos nativos chefiada pelo Padre Luís de Grã, integrando a frota do governador-geral Duarte da Costa. A ação catequética, com a meta de catequizar os índios Carijós. Participou ativamente das lutas dos portugueses para a expulsão dos franceses da Baía da Guanabara. Aprendeu a língua tupi, o que mais tarde lhe permitiu escrever a Gramática tupi, que seria usada em todas as missões dos jesuítas. Em 1597, aos 63 anos e já doente, o padre dirige-se a Reritiba (atual Anchieta), aldeia que fundara no Espírito Santo, onde passa seus últimos dias. Seu falecimento viria a ocorrer no dia 9 de junho do mesmo. José de Anchieta passou à História da Colônia como exemplo de vida espiritual notável, dadas as condições adversas em que foram exercidas, destacando-se pelo zelo religioso e a sensibilidade humana. Em 3 de abril 2014, foi canonizado pelo Papa Francisco.[5]

Os jesuítas trabalham no Brasil por 208 anos, 1549-1757, tendo enviado 474 missionários, entre estrangeiros e formados aqui mesmo no Brasil.



A expansão do Catolicismo[6]

Os carmelitas chegaram em 1580, as missões dos beneditinos tiveram início em 1581, as dos franciscanos em 1584, as dos oratorianos em 1611, as dos mercedários em 1640, as dos capuchinhos em 1642.

Apesar da aliança entre a Igreja Católica e o Estado português, o rei nunca permitiu à igreja liberdade suficiente para crescer e realizar sua tarefa evangelizadora no Brasil. Comparando-se o desenvolvimento da igreja católica no Brasil e nos EUA pode-se concluir que depois de 100 anos presente nos EUA, a Igreja Católica tinha ali 84 bispos e arcebispos, enquanto que em igual período no Brasil havia apenas uma diocese, a de Salvador-BA. Depois de 200 anos, sete; e após 300 anos, apenas 10.[7]




100 anos
200 anos
300 anos
EUA
84 bispos e arcebispos


Brasil
1 diocese
7 dioceses
10 dioceses



Três fatores causaram essa situação no Brasil. O Padroado, o Recurso e o Beneplácito.[8]

“O Padroado foi uma concessão feita pela Igreja Católica a determinados governantes civis, oferecendo-lhes um certo controle sobre a igreja em seus respectivos territórios como um reconhecimento por serviços prestados à causa católica e um incentivo a futuras ações em benefício da igreja”.[9] A coroa portuguesa se comprometia a fornecer os navios para o transporte dos religiosos, financiar o empreendimento missionário católico, construir igrejas e outros edifícios eclesiásticos e pagar o salário dos sacerdotes. Em contrapartida poderia nomear os bispos, recolher os dízimos dos fiéis, aprovar os documentos eclesiásticos, e interferir em quase todas as áreas da vida da igreja. Nem sempre a coroa portuguesa cumpriu suas obrigações, mas foi zelosa no uso de suas prerrogativas. D. Pedro II fez uso eficaz desse expediente.

O Recurso era o direito de recurso à coroa em casos de disciplina eclesiástica.

O Beneplácito ou “placet” era o direito de censura de todas as bulas, cartas e outros documentos eclesiásticos antes de sua publicação no império brasileiro.





[2] Carta de Caminha a El-Rei, 1º de maio de 1500.
[3] Elben Lenz César. História da Evangelização do Brasil, Ultimato, p.26.
[4] COSTA, Keilla Renata. "Manuel da Nóbrega"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/biografia/manuel-da-nobrega.htm>. Acesso em 05 de marco de 2018.
[6] Wikipédia: Catolicismo no Brasil: https://pt.wikipedia.org/wiki/Catolicismo_no_Brasil. Acesso em 16/02/2018.
[7] Earlie E. Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, p.303.
[8] Helio O. Silva. Apostila de História da IPB. SPBC, 2015, p.21,22. Trabalho não publicado, pdf.
[9] Alderi S. Matos, “Eventos Marcantes da História do Cristianismo no Brasil”. Em: Mark A. Noll, Momentos Decisivos na História do Cristianismo, ECC, p.334.

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