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Levítico 23.1-8 = O Sábado e a Páscoa


Introdução:
A vida cristã não é fome e nem funeral, ela é uma festa” (Warren Wirsbe).[1] Por isso Deus instituiu uma forma ao mesmo tempo alegre e solene para celebrarmos as manifestações de sua graça em nossas vidas.

Contexto:
         O capítulo 23 de Levítico estabelece as três festas judaicas mais importantes, das quais duas delas, o cristianismo participa: A Páscoa e o Pentecostes.
As festas sagradas e as épocas determinadas são assim estabelecidas:
1. O sábado (23.3).
2. A Páscoa (23.4,5).
3. A Festa dos Pães Asmos (23.6-8).
4. As Primícias (23.9-14).
5. O Pentecostes (23.15-22).
6. O Toque das Trombetas (23.23-25).
7. O Dia da Expiação (23.26-32).
8. A Festa dos Tabernáculos (23.33-44).
9. O Ano Sabático (cap. 25.1-7).
10. O Ano do Jubileu (cap. 25.8-34).
         
          Seu objetivo era triplo:
1º) Fazer Israel lembrar dos feitos graciosos de Deus a favor de seu povo.
2º) Unir o povo na celebração comunitária de sua unidade como povo exclusivo de Deus.
3º) Ensinar e testemunhar a santidade de Deus e do seu povo.

Proposição:
Nessa ocasião quero tratar do caráter dessas festas e de duas delas: O Sábado e a Páscoa:

I.                  O caráter das festas de israel era normativo (v.1,2):

a)    As Festas do Senhor são fixas.
As datas são estabelecidas por Ele mesmo. Marcam eventos e reuniões solenes convocadas pelo próprio Deus.

b)    As Festas do Senhor são santas convocações proclamadas ao seu povo.
A palavra “moadim” reflete o caráter comunitário e convocatório das festas. É a mesma raiz da palavra usada para compor a expressão “tenda da congregação” ou “tenda do encontro”.

c)     As Festas do Senhor pertencem a Ele!
O Senhor é o proprietário e o instituidor dessas festas religiosas. Elas não provém da criatividade ou da disposição ou disponibilidade das pessoas.

II.               O SÁBADO: O SENHOR GOVERNA O NOSSO TEMPO (V.3):

a)    O homem deve trabalhar seis dias e descansar um.
A grande diferença entre o sábado e as outras santa convocações, é que o sábado era semanal e as outras esporádicas.[2]
Há duas observações mais importantes a fazer aqui:

Primeira: O descanso semanal era estabelecido para todos, inclusive os estrangeiros (Ex 20.10). Não era uma opção, mas uma determinação divina. A punição para a não observância do sábado era a morte! (Ex 31.14; 35.2).

Segunda: A doação do Maná ressaltou a importância do sábado no Antigo Testamento.
         No sexto dia Deus dava porção dupla do maná (Ex 16.29ss). Quem colhesse mais que o necessário nos outros dias veria o maná apodrecido no outro dia, mas no sábado o maná não perdia; podia ser usado sem problemas.
         Deus enfatiza a sua providência para nós e sua soberania sobre o tempo simultaneamente. Guardar o sábado significava reconhecer o governo de Deus sobre o nosso tempo.
Deus criou o sábado porque ele seria para o bem do homem e de toda a criação. Também Deus estava estabelecendo o modelo de como ele deveria ser honrado por seu povo como o criador – SEMANALMENTE.
Deus está dizendo claramente ao homem: “_ Separe tempo para o culto a Deus.” Ao mesmo tempo Deus dá descanso ao homem e à terra, da exploração do homem. O homem não deveria ser cativo da criação, mas essa também não poderia receber abusos gananciosos por parte do homem.

b)    As características do sábado:
®   Descanso solene.
®   Santa convocação.
®   Nenhuma obra deveria ser feita. Nas demais festas acrescenta-se a expressão “obra servil”, ou seja, nenhum tipo de negócio ou negociação deveria ser feita no sábado.
®   É sábado do Senhor em todas as moradas.

c)     O Sábado judeu e o domingo cristão.
A guarda do sábado tem a ver tanto com a criação, quanto com a redenção.
A guarda do sábado apontava para frente, para a esperança do que viria. Trabalha-se seis dias e espera-se o descanso. O sábado nos ensina a olhar para frente, para a redenção que vem.
Após a ressurreição de Cristo essa estrutura mudou radicalmente. Agora, o domingo nos ensina a olhar agradecidamente para trás, para a redenção que já veio.
Os cristãos não seguem o modelo sabático, mas o da ressurreição, ou seja, não trabalhamos seis dias olhando com esperança para o descanso. Agora, começamos a semana nos regozijando no descanso já cumprido por Cristo na cruz e na ressurreição (Hb 4); e então trabalhamos os demais seis dias confiados e confiantes no sucesso da obra de Cristo a nosso favor, na vitória que ele já alcançou para nós.
Na nova aliança, a obrigatoriedade do descanso semanal permanece, mas a sua perspectiva mudou radicalmente: descansamos primeiro e trabalhamos depois, assim como fomos salvos primeiro, e depois aprendemos a servir de forma santa ao nosso Deus.[3]

III.           A PÁSCOA: CRISTO MORREU POR NOSSOS PECADOS (V.4-8):

a) Celebrada no 14º dia do primeiro mês (29 de Março).
®   O cordeiro deveria ser separado no dia 10 e morto e comido assado sem tempero no crepúsculo do dia 14
A Páscoa aponta para o sacrifício de Cristo e sua ressurreição. Paulo liga os eventos da Páscoa diretamente à nossa justificação em Romanos 4.25: Cristo foi entregue por causa de nossas transgressões e ressuscitou por causa de nossa justificação.
Na Páscoa celebrava-se a libertação da escravidão do Egito. Agora celebramos a libertação do jugo de nossos pecados. Uma libertação que não é meramente política, mas espiritual e eterna. Não somos livres da opressão de regimes pecaminosos, mas da condenação dos próprios pecados!
O foco da Páscoa não é a sexta-feira santa da paixão, mas o amanhecer glorioso da Páscoa, no domingo da ressurreição! O foco não está na penitência e no sofrimento, mas na alegria do perdão por causa da ressurreição. É a ressurreição que determina a força da cruz, não somente a morte sacrificial de Cristo. Se Cristo não tivesse ressuscitado, de que nos valeria a cruz? O corpo de Cristo estaria no túmulo e nós sem esperança. Mas Cristo nos libertou dos nossos pecados, e pela ressurreição, nos transportou para o seu reino (Cl 1.13).
Ilustração: O filme “O Corpo”, com Antônio Bandeiras, é uma especulação hipotética sobre a possibilidade de o corpo de Jesus Cristo ser encontrado em Jerusalém e que impacto produziria na fé cristã. Todavia, o corpo de Cristo jamais será encontrado, porque ele ressuscitou dentre os mortos! (1 Co 15.23ss).

b) De 15 a 21 de abib – Festa dos Pães Asmos.
®   Uma semana sem fermento.
®   No primeiro e no sétimo dia da celebração haveria santa convocação.
®   Segundo Warren Wiersbe, essa festa representa a nossa separação do pecado, a santificação.[4]

Aplicações e Conclusão:
A própria introdução contém a aplicação:

1. O que nós entendemos por “Santa convocação”?
         Deus nos convoca para a celebração, não podemos recusar ou nos escusar!

2. Qual a melhor maneira de guardarmos o domingo?
O que responde a Confissão de Fé de Westminster e os Catecismos?

Confissão de Fé de Westminster cap. XXI.7b e 8.
VII. “...desde o princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a ressurreição de Cristo foi mudado para o primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado Domingo, ou dia do Senhor, e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão. (Ref. Ex. 20:8-11; Gn. 2:3; I Co. 16:1-2; At. 20:7; Ap.1:10; Mt. 5: 17-18).
VIII. Este sábado é santificado ao Senhor quando os homens, tendo devidamente preparado os seus corações e de antemão ordenado os seus negócios ordinários, não só guardam, durante todo o dia, um santo descanso das suas próprias obras, palavras e pensamentos a respeito dos seus empregos seculares e das suas recreações, mas também ocupam todo o tempo em exercícios públicos e particulares de culto e nos deveres de necessidade e misericórdia.” (Ref. Ex. 16:23-26,29:30, e 31:15-16; Is.58:13).

O Catecismo Maior
As perguntas 115 a 121 tratam da guarda do domingo. Ressalto a pergunta nº 117:
“Pergunta 117. Como deve ser santificado o Sábado ou Dia do Senhor (= Domingo)?
R: O Sábado, ou Dia do Senhor (=Domingo), deve ser santificado por meio de um santo descanso por todo aquele dia, não somente de tudo quanto é sempre pecaminoso, mas até de todas as ocupações e recreios seculares que são lícitos em outros dias; e em fazê-lo o nosso deleite, passando todo o tempo (exceto aquela parte que se deve empregar em obras de necessidade e misericórdia) nos exercícios públicos e particulares do culto de Deus. Para este fim havemos de preparar os nossos corações, e, com toda previsão, diligência e moderação, dispor e convenientemente arranjar os nossos negócios seculares, para que sejamos mais livres e mais prontos para os deveres desse dia.
Ref.: Ex 20.8,10; Ex 16.25,26; Jr 17.21,22; Mt 12.1-14; Lv 23.3; Lc 4.16; Lc 23.54-56.)
         Devemos preparar os nossos corações com previsão, diligência e moderação para estarmos livres nesse dia!

3. Se Deus fixou as festas e elas lhes pertencem, será que temos autonomia para mudá-las?
         O nosso país mantém inúmeros feriados no calendário; alguns deles são religiosos. Como podemos administrar isso?
Deus determinou essas festas para Israel e não lhes permitiu fazer qualquer alteração ou adaptação. Eles deveriam guardá-las e celebrá-las na sua presença. Cada israelita deveria comparecer.
         Creio que não precisamos comparecer a todas as festas religiosas que são propostas no calendário de nosso país (ex.: Festas de Padroeiras), sabemos que nem mesmo o Natal que celebramos aconteceu exatamente em Dezembro; mas creio estarmos incorrendo em grave erro na forma como observamos a Páscoa.
         Não podemos simplesmente fazer programas de viagem e passeios para essa data. Ela representa o centro de nossa fé: O sacrifício de Cristo por nossos pecados e sua ressurreição. Essa data tem de ser inegociável para nós cristãos em geral e também para os membros da IPJG em particular.
Não podemos simplesmente mudar as comemorações desse dia para ficarmos livres para outros afazeres! Temos de fazer é o contrário, livrarmo-nos de todos os outros compromissos para estarmos livres para a celebração desse dia, no dia designado!
         Precisamos voltar para casa e tomar a decisão de mudar a nossa atitude e o nosso planejamento familiar!
E precisamos orar para não sermos negligentes e indulgentes com o secularismo que nos cerca e cega!
Quando prepararmos os programas da próxima Páscoa, os irmãos vão comparecer?!




[1] Warren W. Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo – Levítico. Vol. 1, p.380.
[2] Oswald T. Allis. NCB, vol. 1 – Levítico; Vida Nova. p.178.
[3] O Palmer Robertson. Cristo dos Pactos. LPC, p. 62-68.
[4] Warren Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo – Levítico. Vol. 1, p.379.

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