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2 Reis 5.1-19 = A Postura do Homem de Deus Frente a Homens Públicos (Eleições)



Rev. Hélio O. Silva.
Data: 12/07/2002 (Revisão: 24/09/2012). 

Exposição feita à PIPGoiânia-GO em 23/09/2012.
Texto: 2 Reis 5.1-19.Tema: A Postura do Homem de Deus Frente a Homens Públicos.
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Introdução:
         Pensando em como orientar a igreja em tempos de eleições preparei há alguns anos atrás uma série de exposições de textos bíblicos chaves que versam sobre o assunto:
(1) Êxodo 18.21 = O Caráter dos Homens Públicos. Dos homens públicos se requer caráter e responsabilidade social.
(2) Juízes 9.1-21 = Os Políticos e Suas Campanhas. Quem promove campanhas espúrias ou delas se torna cúmplice beberá também do seu veneno e do seu castigo.
(3) 2 Crônicas 1 =  O Cristão e seu Envolvimento Político. Salomão pediu sabedoria a Deus, o resto é graça! Vem no pacote!
(4) Romanos 13.1-7 = Obediência às Autoridades Civis. Toda autoridade provém de Deus, seja civil seja espiritual. Nosso papel é participar com integridade e honra.
(5) 2 Reis 5.1-27: A Postura do Profeta de Deus Frente a Homens Públicos ou A Relação Igreja-Estado no Episódio Naamã/Eliseu. Nem a igreja é tutora do Estado e nem o Estado é tutor da Igreja. A Igreja é profeta do Estado.

Contexto:
O ministério de Eliseu é continuação do ministério de Elias. Mesmo assim, ambos são bem diferentes um do outro. Eliseu é um homem mais brando e cordato, se comparado com Elias. Ele é mais urbano e sociável; não mora nos desertos, mas numa casa própria em Samaria. Era muito mais acessível e fácil de encontrar que Elias.
          O evento de Naamã, segundo H. E. Ellison,[1] acontece provavelmente no reinado de Jeú ou um de seus sucessores mais próximos, colocando esse acontecimento após os acontecimentos do capítulo 6.
Mesmo assim, é possível colocar o ministério de Eliseu no início do período sírio de dominação sobre Israel, que foi de curta duração, apenas durante o reinado de Hazael, ungido rei da Síria pelo próprio Eliseu (cap. 8).
Por outro lado, também mantinha relações com o Estado político de Israel, ora auxiliando, ora confrontado os pecados dos reis e da nação.
Essa é a postura bíblico-filosófica do Calvinismo. Cremos que a Igreja deve auxiliar o estado em suas funções próprias (promover segurança, cidadania etc) enquanto que o Estado auxilia a Igreja em suas funções próprias (anunciar o Evangelho, formar bons cidadãos etc).
         Creio ser possível traçarmos um padrão de relacionamento entre os homens de Deus (representantes da Igreja) e os homens públicos (representantes do Estado) com base na postura de Eliseu.
  
Proposição:
         Para ser profeta de Deus para o Estado, especialmente em tempos eleitorais, a Igreja precisa:

(I) NÃO SE DEIXAR SEDUZIR PELA POMPA DO ESTADO  (v.5-11):


      a) Naamã leva presentes caros v.5.
Ø 10 talentos de prata =  300 Kg. (1 talento corresponde a 30 Kg).
Ø 6.000 siclos de ouro =  68,544 Kg (1 siclo = 11.424 g.). Pouco mais de dois talentos de ouro.
Ø 10 vestes festivais = 

b)  Naamã esperava tratamento “Vip” (v11).
Ø Pensava eu...
Ø Sairia a ter comigo...
Ø Um ritual pomposo
1.     Por-se de pé.
2.     Invocar o nome do Senhor (orar em voz alta).
3.     Mover a mão sobre o lugar = literalmente “erguer a mão sobre”[2], impor as mãos. Isso indica que ele esperava um exorcismo formal. Ele via a cura como um ato mágico.
4.     Restauraria o leproso
Esse comportamento é muito comum em representantes do Estado civil quando tratam com a igreja em tempos de eleição. Aquela velha conversinha mole do tipo: “_Você sabe com quem está falando?” Nas questões temporais há uma histórica briga entre igreja e estado para saber quem manda mais. No nosso tempo o Estado laico tem tomado a postura de achar que ele manda mais.

(II) NÃO QUERER IMPRESSIONAR O ESTADO COM MANIFESTAÇÕES ESPETACULARES.  (v.8-12):

®   Eliseu dá a atenção necessária, porém, não a esperada. (v.8,10).
            Eliseu quer mostrar-lhe que a cura nada tinha de mágico, mas era somente uma graça concedida por Deus a Naamã. A igreja não é o reino de Deus mas proclama o reino e suas virtudes, especialmente a sua graça salvadora!
Ø Chamou-o à sua presença.
Ø Enviou um mensageiro.
Ø Disse o que fazer.
Ø Era o suficiente.
O objetivo final de Eliseu era o de mostrar que há profeta em Israel. A Igreja é agente representante de Deus e do seu Reino na história secular. Ela foi chamada para proclamar as virtudes daquele que a chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (I Pe 2).
O primeiro ato de Eliseu é de resistência, não se deixar seduzir, o segundo é mais positivo, pois tem a ver com a mensagem do seu ministério. Deus não chamou a Igreja para impressionar as pessoas ou o Estado, mas para ministrar a sua palavra e anunciar a sua vontade.
         A Igreja apresenta mediante o seu conselho sábio o caminho da benção e da cura a Naamã, representante do Estado sírio. Ele recebe o necessário, o suficiente, nada mais, nada menos.

(III) NÃO SE DEIXAR SEDUZIR PELOS FAVORES ESTATAIS EM DETRIMENTO DE SUA MISSÃO.  V.15-17;

a)    Naamã volta consciente da presença de Deus com Eliseu.
A mudança de vida e pensamento só acontece quando conhecemos a
Deus de fato, e não apenas formalmente.

b)    Eliseu resiste à insistência pelos presentes.
Por que Eliseu não aceita os presentes, a “oferta”? Porque aquilo poderia levar Naamã a achar que fora merecedor de alguma coisa, quando na verdade na foi. E para que toda a honra da cura fosse e seja de Deus e nada dele, nem de Naamã e nem de Eliseu.
Será que a igreja não leu isso daqui? Porque a bajulação frente ao Estado denigre não somente a igreja perante aopinião pública, mas adenigre diante de seu verdadeiro Senhor!

(IV) NÃO FAZER DE QUESTÕES POLÍTICAS CAVALOS DE BATALHA RELIGIOSOS, ANTES, PROMOVER A PAZ.  (v.18,19).

a) A Igreja não é tutora do Estado secular, mas seu profeta.
Calvino defendia uma separação entre Igreja e Estado que não fosse plena. Essa relação com o Estado incluía tanto tensão quanto interação. Como o governo de Deus é sobre toda a criação, a Igreja deve sim participar positivamente na sociedade. Esta seria uma forma de demonstrar simpatia e sentimento de solidariedade em relação àqueles que são extra ecclesiam (fora da Igreja), na esperança de que amanhã possam ser acrescentados à Igreja.[3]
Igreja e Estado possuem esferas separadas e autônomas de atuação mantidas em cooperação. Os magistrados civis deviam manter a ordem cívica (segurança) e a uniformidade religiosa (liberdade de culto). A Igreja, por sua parte deveria formar bons cidadãos através de famílias estáveis e fiéis cumpridoras de seu dever civil.
O profeta anuncia a vontade de Deus buscando arrependimento, conversão e volta para Deus. Esse era o foco de Eliseu na sua relação com Naamã (v.8 = “e saberá que há profeta em Israel”).

b) O objetivo de Eliseu era mostrar a Israel que era profeta de Deus para Israel e não para a Síria (v.8b).
Eliseu não se intromete nas questões pessoais de Naamã porque seu foco estava na apostasia de Israel. De que nos adianta acusar o Estado de idolatria quando o próprio povo de Deus é tão idólatra quanto os pagãos?


c) A Igreja aceita a liberdade religiosa por amor à paz, mas dá testemunho inequívoco de Deus ao Estado.
Sabemos que nem todos virão ao evangelho. Por isso, nossa tolerância social acontece por amor à paz a fim de que Deus nos conceda oportunidades para a pregação do evangelho às pessoas.
Lembremos-nos de orar pela nossa cidade, porque ela tiver paz, nós teremos paz (Jr 29.7; Sl 122.6-8).

(V) NÃO FAZER DA MENTIRA INSTRUMENTO DE CONQUISTAS PESSOAIS, TIRANDO PARTIDO DA BOA VONTADE DE HOMENS PÚBLICOS.  (v.20-27).

a) Geazi foi motivado por cobiça.
A cobiça, como o maior pecado da Teologia da Prosperidade, tem sido o maior motivo de escândalo da igreja contemporânea perante a opinião pública.
Ele pediu um talento de prata (o dízimo da parta!) e duas vestes festivais. E buscou vantagem pessoal (receberei dele alguma coisa (v.20).

b) A mentira não passa despercebida diante de Deus.
A mentira, mesmo a que for dita por um homem de Deus, jamais passará despercebida diante de Deus. Geazi era servo de um grande profeta de Deus, mas agiu pior que um ímpio.
Ilustração: Um candidato à presidência da república no passado foi a uma igreja evangélica em São Paulo participar de um culto e tentar ganhar alguns votos. O pastor o recebeu, deu-lhe a palavra durante do culto e orou por ele e sua campanha impondo as mãos. Depois que o candidato saiu exclamou no microfone: “Aleluia! Deus colocou esse ímpio em nossas mãos e agora vamos extrair até o tutano dele!”
Essa bajulação predatória envergonha o evangelho. Ela persiste em nossas igrejas. A igreja evangélica brasileira deveria criar vergonha na cara! Ela nõa só se rebaixa perante os representantes do poder público que condena como corruptos, mas se tornou mais corrupta e corruptora do que ele!

c) Geazi leva consigo o castigo de sua cobiça, para ele e sua família.
A doença de Naamã se torna a doença de Geazi e de sua casa. Quem deseja a boa vida que a corrupção promove, ganhará de presente os males que ela gera.
Ilustração: O Sr. Marcos Valério que o diga. Operador do “Mensalão”, desviou mais de R$ 350 milhões sob promessas de impunidade de seus comparsas. Foi preso e julgado de vários crimes. Agora bota a boca no trombone e incrimina o próprio ex-presidente da República! (Veja 2247 ano 45, nº 38, p.62-68). Resta saber: Se é verdade o que disse, quando o sr. que disse inúmeras vezes “_ Eu não sei de nada” será indiciado por formação de quadrilha junto com os demais!?

Conclusão:
Em tempos de eleição qual deve ser a postura da igreja?
1. Integridade.
Não se vender aos favores estatais visando promoção pessoal ou denominacional, mas sermos fiéis a Deus em tudo, o tempo todoe diante de todos.

2. Firmeza frente a pressões externas.
Não mudar o discurso, mas anunciar profeticamente a palavra de Deus com autoridade e foco.

3. Alvos bem definidos: (para que elel saiba).
As pessoas precisam saber que há Deus no céu e que ele é quem na verdad governa a terra. Não é a situação nem a oposição; Não são os empresários e nem os banqueiros; Não são os cientistas e nem os intelectuais. Quem governa é Deus!
Amém!


[1] H. L. Ellison, NCB, II Reis, p.374.
[2] H. L. Ellisen, NCB, II reis, p.374.
[3] Thimoty George, Teologia dos Reformadores, p.243.

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