Hélio O. Silva
14/07/2012
Tempo de
Despertar
Eu
desenterrei as palavras antigas. Cavei uma a uma do subsolo adormecido e
coberto de grama molhada pelo orvalho caído dos anos que passaram sobre mim.
Perguntei às minhas mãos por que faziam assim, mas elas não pararam de cavoucar,
procurando as palavras, desenterrando as memórias.
As
palavras não se perdem. São sementes que ficam adormecidas nos livros e no
correr dos tempos. Elas esperam as mãos que buscam as respostas e as vozes que fazem as
perguntas. Elas brotam como a luz do alvorecer iluminando as mentes, libertando
as almas do sono cansado e fazem pulsar os corações antes acorrentados em suas
paixões. As palavras antigas falam porque nunca conseguiram emudecê-las. Muitas
palavras foram publicadas a fim de escondê-las, ofuscá-las ou empurrá-las para
o esquecimento. Todavia, essas palavras jamais conseguiram matar a fome das
almas, pois só tinham lama.
Eu
desenterrei as palavras porque tive fome e desisti de me alimentar das ilusões
entoadas nas canções tocadas ao vento, sem rumo, sem letra, sem ter o que
dizer. Fui buscá-las no passado para fugir do veneno entorpecedor que me
ofereceram num copo de cristal, mas que não fascina mais. A escuridão trouxe o
frio e o medo. A gritaria sem sentido que nos leva a tapar os ouvidos e correr
para o silêncio de um jardim ao entardecer. Assim cavei até achá-las,
colecionando-as junto ao meu coração...
Então
as li novamente, relembrando cada capítulo, cada versículo que o tempo não
apagou; e as traduzi novamente... Para publicá-las em livros novos e não perder
o seu sentido nem o seu significado. E as proclamei nos microfones que me
ofereceram, folheando-as com dedos firmes. Fixando o meu olhar direto à frente
tentei penetrar na escuridão dos outros olhares refletindo a luz das palavras,
compartilhando o poder que nunca foi meu, nem de ninguém, mas da Palavra e do
Verbo Eterno.
Correram
as páginas nas mãos de quem veio procurar junto comigo as antigas palavras.
Chegou o tempo de despertar...