Hélio O. Silva.
29/07/2004.
Pastoral: Em Nenhum Outro Lugar.
“Agradeço a
Deus todos os caminhos por onde me levou e gostaria de estar exatamente onde
estou, em nenhum outro lugar, pois
este é, creio, meu campo de
trabalho”.[1]
Quando vemos
pela TV americanos fazendo gestos obscenos para as câmaras dos aeroportos
brasileiros externando todo o seu desprezo por este país e pelo seu povo, num
ar de vitimada superioridade, é confortante saber que no passado este outro
americano descobria ser a mais abençoada vontade de Deus ele viver entre nós
gastando a sua vida pelo evangelho aqui.
O americano
que disse essa frase não era um surfista encantado com as praias brasileiras,
tampouco um homem de negócio atrás de uma mina de ouro. Ele era um missionário,
que como tantos outros vieram trazer a palavra de Deus ao Brasil. No seu país
havia recebido vários e insistentes convites de boas igrejas a fim de por lá
permanecer e fazer brilhante carreira pastoral; visto que era bom e fiel
pregador, formado sob a disciplina de renomada escola teológica e familiarmente
ligado à tradição de gente consagrada ao evangelho. Mas ele escolheu mesmo
assim vir para o Brasil.
Aqui chegando
em 12 de agosto de 1859, ainda gastou mais oito meses para conseguir falar a
nossa língua. Seu primeiro trabalho em português foi uma aula de Escola
Dominical (22/04/1860). Quando outros achavam que a missão deveria mudar de
cidade, com perseverança e dificuldades fundou a primeira Igreja Presbiteriana do Brasil no Rio de Janeiro
(12/01/1862). Crendo que a palavra escrita caminha mais rápido que a pregação
nos templos, criou o primeiro jornal evangélico do país batizando-o com o nome
de “Imprensa Evangélica” (10/1864).
Ciente de que sem educação não se aprende a ler para ler a Bíblia, fundou uma escola paroquial. Auxiliado por outros
que chegaram, viu nascer não só mais uma igreja em São Paulo, mas também
arquitetou a organização do primeiro
presbitério e participou da ordenação do primeiro pastor genuinamente
brasileiro, José Manoel da Conceição (16/12/1865). Crendo na verdade do seu
chamado e na potencialidade de crescimento da igreja brasileira, fundou o nosso
primeiro Seminário (1867). Mesmo
sabendo das obstruções legais ao avanço da obra protestante no Brasil, sonhou e
começou a preparar a construção de um templo, que não viu acontecer, pois o
Senhor o chamou à sua presença antes. Ele faleceu em 09/12/1867, vítima de
febre amarela em São Paulo, e o templo só começou a ser erguido em 1873, por
uma intervenção especial do Imperador D. Pedro II..
Esse americano
que cedo aprendeu a amar o Brasil é Ashbel Green Simonton. O Brasil daquele
tempo não era melhor que o Brasil de hoje. As lutas da igreja daquele tempo não
eram mais fáceis que as de hoje. Resta saber se o amor dos crentes de hoje pelo
Brasil é do mesmo calibre do amor dos crentes daquela época.
Para Simonton,
estar no Brasil era motivo de gratidão. Estar no Brasil era certeza da vontade
de Deus para a sua vida. Estar no Brasil era estar no seu campo de trabalho. Às
vezes, nós presbiterianos desprezamos o gênio de Simonton, achando que a nossa
história é uma história de pequenos vultos. Não é bem assim, Simonton era um
homem dotado de maturidade, talento, excelente preparo acadêmico e consagrado a
Deus e à causa do evangelho. Ao comemorarmos mais um aniversário da IPB, não
nos esqueçamos de que Deus nos colocou aqui, e não precisamos querer estar em nenhum outro lugar. Com amor, Pr.
Hélio.