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A Sala das Penas


Hélio O. Silva (20/07/2002)

A Sala das Penas


Rasgou-se o travesseiro,
libertando as penas brancas que custavam o preço do meu perdão.
Cada pena uma ofensa proferida,
um perdão retido;
uma mágoa guardada,
inveja, cobiça, pecados; e muito mais.
Foram invocados o tempo e o vento.
Os nomes foram ditos, lavrada a sentença.
Nas mãos os panos rasgados do travesseiro.
Diante dos olhos, a sala das penas.

Eu tentei recolhe-las, mas eram muitas.
Espalhadas por toda parte, leves, soltas no ar.
Rodopiavam e riam de mim,
que inutilmente catava daqui e dali.
Quantas eu poderia alcançar antes do vento soprar?
Por isso corria apressadamente.

Estavam por toda parte,
em todo lugar,
brancas e brilhantes,
subindo e descendo.
Dançavam o balé que eu não conseguia seguir.
Quantas mais eu pegava,
tantas mais haviam para recolher.
Eu me cansava e me desesperava.
Por isso corria apressadamente.

Cada vez se espalhavam mais
e distanciavam-se umas das outras.
Elas riam suavemente de mim,
como a menininha que se alegra
com o irmãozinho que não a alcança antes do pique.
Minhas mãos deslizavam no ar,
produzindo o vento,
espantando as penas,
sentenciando-me inadvertidamente.
Chamando o meu caos.
Por isso corria apressadamente.

Eu me esforçava espavoridamente.
Era o preço do meu perdão.
Eu não podia perder,
eu não queria perder,
mas perdi.
O vento chegou e soprou para longe as penas do meu perdão
e eu só pude olhar e ver despetalar a minha esperança,
despedaçar o sonho que sonhei.
As mãos estendidas não as alcançavam mais, e pronto.

A sala se calou.
Entrou o Senhor.
No centro deixou a sua cruz.
Ele iluminou a sala com o seu olhar.
Tocou meu ombro.
Cai a seus pés prostrado.
Tomou de minhas mãos o travesseiro
e as poucas penas que apanhei.
Então estendeu a outra mão
e chamou de volta o vento,
que trouxe as penas,
cada uma delas,
que sorrindo e dançando,
novamente encheram a sala.
Mais brilhantes e mais brancas.

Cessou o vento, calou-se o burburinho.
E as penas pousaram uma a uma aos seus pés,
Ele as colocou nos restos rasgados do travesseiro.
Depois o levou consigo, e eu sai da sala com Ele.
Nunca mais retornaria lá...

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