
Pastorais. (28/11/00).
Rev. Hélio de Oliveira Silva, STM.
Vem tomando forma entre alguns líderes evangélicos brasileiros o assumirem o título de “apóstolos”. Miguel Ângelo, no Rio de Janeiro; Estevam Hernandes, em São Paulo; e mais recentemente, César Augusto, em Goiânia.
Do jeito que a coisa vai, logo teremos um apostolado para cada Estado brasileiro ou para cada metrópole desse país. Quando o tráfego de “apóstolos”se tornar congestionado, alguém, em algum lugar, ou estes mesmos, vão querer elevar seus títulos para “Patriarcas”.
Ora, a história da Igreja Antiga nos dá testemunho de que esta prática não é nova e de que também não é saudável para a Igreja do Senhor Jesus Cristo.
O próprio Apóstolo Paulo teve problemas com aqueles que se auto-denominavam apóstolos (II Co 11.1-15) e a Igreja de Éfeso, vários anos depois, havia colocado alguns deles à prova e os havia achado mentirosos. Jesus elogiou a atitude da Igreja de Éfeso, mesmo apesar de ela ter feito isso mecanicamente, uma vez que houvera abandonado o seu primeiro amor.
Mas, por que buscar e proclamar-se “apóstolo”?
A Escritura credita este título apenas aos doze, a Matias, a Paulo (como um nascido fora do tempo – I Co 15.8), a Tiago, o irmão do Senhor (Gl 1.19, I Co 15.7) e de uma forma bem mais limitada a Barnabé, Timóteo e Silas (At 14.4,14; I Ts 2.6).
Os apóstolos, ao lado dos profetas do AT formam o alicerce da Igreja (Ef 2.20 e 3.5). Uma das principais credenciais do apostolado era ter visto o Senhor (I Co 9.1). “Um apóstolo era alguém enviado numa missão específica, na qual age com plena autoridade em favor de quem o enviou, e que presta contas a este”[1].
Paulo, ao enfrentar o problema daqueles que se auto-intitulavam apóstolos na Igreja de Corinto (II Co 11.1-15), deixou bem claro tratar-se de um expediente fraudulento, que tinha como objetivo minar a autoridade dos verdadeiros apóstolos, especificamente a sua, a fim de serem considerados iguais a eles. “Mas o que faço e farei é para cortar ocasião àqueles que a buscam com o intuito de serem considerados iguais a nós, naquilo em que se gloriam” (v.12). O que eles buscavam? “Desejavam poder dizer que desenvolviam sua missão nas mesmas condições de Paulo, a fim de consolidar com força a sua posição em Corinto”[2].
Aqueles “apóstolos” de Corinto, queriam se igualar a Paulo em autoridade a fim de implementar seus projetos particulares sem que houvessem empecilhos. Paulo chama a Igreja a não se deixar enganar e a não aceitá-los de boa mente, pois este comportamento era fraudulento e servia somente aos propósitos de Satanás e não aos da Igreja do Senhor Jesus Cristo. Paulo chega mesmo a chamá-los de “falsos apóstolos”e “Ministros de Satanás” (v. 13,15).
Então podemos concluir que ao se auto-denominarem apóstolos, os pastores brasileiros dessas mega-Igrejas estejam correndo o risco de estarem buscando duas coisas:
1ª) Preservar sua autoridade sobre suas igrejas e implementá-la sobre as demais. Para eles ser apóstolo é ter um status superior ao de simples pastor entre os demais pastores. É ser o coordenador de um ministério eclesiástico de maior alcance e que por isso exige o reconhecimento de um grau maior de autoridade. Ora, foi assim que a Igreja marchou rumo ao Papado, e a Igreja Evangélica brasileira não está se comportando de modo diferente. César Castellanos, o líder mundial do movimento G-12, chegou mesmo a afirmar que Deus lhe deu um apostolado mundial e agora ele busca discípulos para implementar sua autoridade apostólica mundial[3], inclusive no Brasil. A própria pastora Valnice Milhomes se colocou debaixo de sua cobertura espiritual e por ele foi ungida “tornando-se um de seus três discípulos no Brasil”[4].
2ª) Uma vez que o apóstolo respondia diretamente a Deus por seu comissionamento, não haveria qualquer autoridade sobre ele. Não seria preciso se submeter à prestação de contas de seus atos e doutrinas a quem quer que seja. Mas é preciso lembrar que até mesmo entre os apóstolos isso não se aplicava, e o Concílio de Jerusalém (At 15) é uma prova cabal de que os apóstolos se reuniam para resolver diferenças de posicionamento doutrinário entre eles e resolverem em conjunto as suas questões. Paulo chega a repreender a Pedro por um comportamento apostólico inadequado em Gálatas 2.11-14.
Que Deus os livre de ser isso que esteja lhes acontecendo.
Quero concluir, observando que pessoas se auto-intitulando apóstolos sempre existiram na história da Igreja e certamente continuará existindo, e infelizmente grande parte da Igreja os aceitará de boa mente, mas nem por isso, será uma prática aprovada por Deus e Cristo. É preciso denunciá-los como Paulo e a Igreja de Éfeso fizeram e os acharam mentirosos. Somos pastores entre pastores e nossa autoridade vem de Deus e da fidelidade à sua Palavra, e não da posição que almejamos entre os irmãos, pois ao se auto-intitularem “apóstolos” agora, terão de gastar muito mais tempo defendendo o seu apostolado do que pregando a Palavra propriamente dita, e a divisão já está definitivamente declarada no meio de nós.
Em breve, colheremos os louros de nosso opróbrio, ao permitirmos ao nosso coração desejarmos aquilo que Deus não mandou que desejássemos.
[1] E. F. Harrinson, Apóstolo, Apostolado, em Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Ed. Vida Nova, vol. 1, p.103.
[2] Colin Curse, II Coríntios, Introdução e Comentário, Ed. Vida Nova/Mundo Cristão, p.202.
[3] Carlos Fernandes e Francisco Brandão, Revolução ou Heresia?, Revista Eclésia, ano V, nº 57, Agosto de 2.000, p.25.
[4] Ibid, p. 19.
Rev. Hélio de Oliveira Silva, STM.
Vem tomando forma entre alguns líderes evangélicos brasileiros o assumirem o título de “apóstolos”. Miguel Ângelo, no Rio de Janeiro; Estevam Hernandes, em São Paulo; e mais recentemente, César Augusto, em Goiânia.
Do jeito que a coisa vai, logo teremos um apostolado para cada Estado brasileiro ou para cada metrópole desse país. Quando o tráfego de “apóstolos”se tornar congestionado, alguém, em algum lugar, ou estes mesmos, vão querer elevar seus títulos para “Patriarcas”.
Ora, a história da Igreja Antiga nos dá testemunho de que esta prática não é nova e de que também não é saudável para a Igreja do Senhor Jesus Cristo.
O próprio Apóstolo Paulo teve problemas com aqueles que se auto-denominavam apóstolos (II Co 11.1-15) e a Igreja de Éfeso, vários anos depois, havia colocado alguns deles à prova e os havia achado mentirosos. Jesus elogiou a atitude da Igreja de Éfeso, mesmo apesar de ela ter feito isso mecanicamente, uma vez que houvera abandonado o seu primeiro amor.
Mas, por que buscar e proclamar-se “apóstolo”?
A Escritura credita este título apenas aos doze, a Matias, a Paulo (como um nascido fora do tempo – I Co 15.8), a Tiago, o irmão do Senhor (Gl 1.19, I Co 15.7) e de uma forma bem mais limitada a Barnabé, Timóteo e Silas (At 14.4,14; I Ts 2.6).
Os apóstolos, ao lado dos profetas do AT formam o alicerce da Igreja (Ef 2.20 e 3.5). Uma das principais credenciais do apostolado era ter visto o Senhor (I Co 9.1). “Um apóstolo era alguém enviado numa missão específica, na qual age com plena autoridade em favor de quem o enviou, e que presta contas a este”[1].
Paulo, ao enfrentar o problema daqueles que se auto-intitulavam apóstolos na Igreja de Corinto (II Co 11.1-15), deixou bem claro tratar-se de um expediente fraudulento, que tinha como objetivo minar a autoridade dos verdadeiros apóstolos, especificamente a sua, a fim de serem considerados iguais a eles. “Mas o que faço e farei é para cortar ocasião àqueles que a buscam com o intuito de serem considerados iguais a nós, naquilo em que se gloriam” (v.12). O que eles buscavam? “Desejavam poder dizer que desenvolviam sua missão nas mesmas condições de Paulo, a fim de consolidar com força a sua posição em Corinto”[2].
Aqueles “apóstolos” de Corinto, queriam se igualar a Paulo em autoridade a fim de implementar seus projetos particulares sem que houvessem empecilhos. Paulo chama a Igreja a não se deixar enganar e a não aceitá-los de boa mente, pois este comportamento era fraudulento e servia somente aos propósitos de Satanás e não aos da Igreja do Senhor Jesus Cristo. Paulo chega mesmo a chamá-los de “falsos apóstolos”e “Ministros de Satanás” (v. 13,15).
Então podemos concluir que ao se auto-denominarem apóstolos, os pastores brasileiros dessas mega-Igrejas estejam correndo o risco de estarem buscando duas coisas:
1ª) Preservar sua autoridade sobre suas igrejas e implementá-la sobre as demais. Para eles ser apóstolo é ter um status superior ao de simples pastor entre os demais pastores. É ser o coordenador de um ministério eclesiástico de maior alcance e que por isso exige o reconhecimento de um grau maior de autoridade. Ora, foi assim que a Igreja marchou rumo ao Papado, e a Igreja Evangélica brasileira não está se comportando de modo diferente. César Castellanos, o líder mundial do movimento G-12, chegou mesmo a afirmar que Deus lhe deu um apostolado mundial e agora ele busca discípulos para implementar sua autoridade apostólica mundial[3], inclusive no Brasil. A própria pastora Valnice Milhomes se colocou debaixo de sua cobertura espiritual e por ele foi ungida “tornando-se um de seus três discípulos no Brasil”[4].
2ª) Uma vez que o apóstolo respondia diretamente a Deus por seu comissionamento, não haveria qualquer autoridade sobre ele. Não seria preciso se submeter à prestação de contas de seus atos e doutrinas a quem quer que seja. Mas é preciso lembrar que até mesmo entre os apóstolos isso não se aplicava, e o Concílio de Jerusalém (At 15) é uma prova cabal de que os apóstolos se reuniam para resolver diferenças de posicionamento doutrinário entre eles e resolverem em conjunto as suas questões. Paulo chega a repreender a Pedro por um comportamento apostólico inadequado em Gálatas 2.11-14.
Que Deus os livre de ser isso que esteja lhes acontecendo.
Quero concluir, observando que pessoas se auto-intitulando apóstolos sempre existiram na história da Igreja e certamente continuará existindo, e infelizmente grande parte da Igreja os aceitará de boa mente, mas nem por isso, será uma prática aprovada por Deus e Cristo. É preciso denunciá-los como Paulo e a Igreja de Éfeso fizeram e os acharam mentirosos. Somos pastores entre pastores e nossa autoridade vem de Deus e da fidelidade à sua Palavra, e não da posição que almejamos entre os irmãos, pois ao se auto-intitularem “apóstolos” agora, terão de gastar muito mais tempo defendendo o seu apostolado do que pregando a Palavra propriamente dita, e a divisão já está definitivamente declarada no meio de nós.
Em breve, colheremos os louros de nosso opróbrio, ao permitirmos ao nosso coração desejarmos aquilo que Deus não mandou que desejássemos.
[1] E. F. Harrinson, Apóstolo, Apostolado, em Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Ed. Vida Nova, vol. 1, p.103.
[2] Colin Curse, II Coríntios, Introdução e Comentário, Ed. Vida Nova/Mundo Cristão, p.202.
[3] Carlos Fernandes e Francisco Brandão, Revolução ou Heresia?, Revista Eclésia, ano V, nº 57, Agosto de 2.000, p.25.
[4] Ibid, p. 19.