Hélio O. Silva
26/06/2010. Tantas Vezes...
Eu caí tantas, tantas vezes; tropeçando meus pés nas areias quentes dos desertos de minha alma que não quis te escutar.
Eu sujei meus pés na lama mal cheirosa daquele pecado que não quis confessar, ou que, confessando, não quis abandonar.
Eu me perdi nos caminhos confusos do labirinto escuro e alto que construí ao redor de mim, apalpando paredes lodosas de coisas antigas; de sentimentos antigos e de mágoas antigas, que nem sei...
Mas o Senhor me amou mesmo assim; sem eu saber por quê. Foram tantas vezes, tantas vezes...
Eu fugi de tantas guerras e declarei outras tantas que não eram para mim.
Brandi uma espada trincada nas trevas de um coração confuso e cego, golpeando a luz reluzente ao redor de mim o tempo todo!
Construí sonhos sem fim à luz tremulante de uma única vela.
Mas eram canções cantadas no interior de uma caverna, onde só o eco respondia informe gritando para eu parar.
Foram tantas, tantas vezes... Como eu poderia quebrar meus grilhões de ferro? Como eu poderia?!
Mas o Senhor me amou mesmo assim; apertando dentro do peito o meu coração, sem me deixar respirar; sem me deixar afastar.
Foram tantas, tantas vezes...
Eu perdi minhas lágrimas secas pelas madrugadas solitárias, chorando por detrás de portas trancadas e sem chave que as abrisse.
Ouvindo a música triste de uma flauta doce e suave, embalada por uma voz distante chamando meu nome sem parar.
Foram tantas, tantas, tantas vezes...
Mas o Senhor me amou mesmo assim, aproximando-se e olhando atentamente para mim. Libertando-me e trazendo-me para dentro de sua casa acolhedora.
Foram tantas vezes...
Eu contei as horas e marquei os dias até desistir de fugir e também de fingir.
Eu terminei o discurso do Filho pródigo, que não recitei, porque o Senhor que me amava me segurou na sua mão direita; levantando-me, elevando-me acima do que eu podia ser e subir sozinho.
Ele me trouxe de volta para recomeçar tantas, tantas vezes...